Título: Choque de aviões foi evitado há 15 dias, diz controlador
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2007, Política, p. A6

O presidente da Associação dos Controladores do Tráfego Aéreo, Welligton Andrade Rodrigues, confirmou na tarde de ontem informação do deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) de que dois aviões de grande porte de transporte civil quase se chocaram em região próxima a Brasília há 13 dias. O sargento prestou depoimento por quase quatro horas na tarde de ontem e fez as declarações mais importantes até agora da CPI do Apagão Aéreo.

"Tenho a informação de dentro da Aeronáutica que quase houve um acidente há alguns dias perto de Brasília. Um Boeing e um Airbus tiraram tinta um do outro e um acidente terrível quase aconteceu. Você tem conhecimento desse fato?", perguntou Vic Pires ao sargento da Força Aérea Brasileira. "A informação que eu tive é que (os aviões) passaram realmente muito próximos", respondeu Rodrigues.

Embora ele tenha respondido positivamente, a Aeronáutica informou oficialmente que não houve qualquer registro sobre um cruzamento muito próximo de dois aviões nos últimos dias. "Vou pedir todos os relatórios de perigos dos últimos dias e vamos convocar os dois controladores que controlavam esses vôos. Quero tirar isso a limpo", disse Vic Pires, depois de saber da resposta da Aeronáutica.

Durante as três horas que falou aos parlamentares da CPI, Rodrigues fez um depoimento emocionado. Ficou com os olhos marejados ao falar do dia 29 de setembro de 2006, quando o avião da Gol chocou-se com um jato Legacy e caiu sem deixar qualquer sobrevivente. "O controlador tem pesadelos com acidente. Naquele dia, os companheiros choravam nos consoles de controle. No dia seguinte, vários chegavam no trabalho chorando", disse.

Ele reclamou do tratamento dado aos controladores. "Na Suíça, em 2002, quando houve um acidente, reduziram em 40% o tráfego aéreo para que os controladores retomassem a auto-estima. Aqui, tivemos de seguir o mesmo trabalho em condições psicológicas precárias." E completou: "E o que aconteceu? Começaram a aparecer as licenças médicas. Pelo menos 30 companheiros tiveram de se afastar por faltas de condições. Começaram a somatizar a angústia".

Além de Wellington, o ex-controlador Jorge Carlos Botelho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, também falou à CPI. Os dois concordaram em dois pontos fundamentais de suas declarações. Ambos classificaram como ato de desespero a greve de algumas horas que os controladores militares fizeram no início do ano. "Foi a explosão de um descontentamento enorme com a falta de posicionamento do governo", disse Botelho. Rodrigues foi além. "Depois da paralisação, o controlador virou o vilão de tudo. O governo nos abandonou. Ficamos no fundo do poço", afirmou.

Outro ponto de convergência entre os dois depoimentos foi a reivindicação pela desmilitarização dos controladores aéreos. "A vida militar é incompatível com a vida de controlador de vôo. Não é nada contra os militares, mas o controle vai crescer muito e os controladores precisam ter uma gestão própria", disse o sargento Rodrigues.

"Dificilmente vamos resolver essa questão e melhorar o controle do tráfego aéreo se o problema continuar sob o regime militar", disse Botelho. O ex-controlador criticou a declaração dos militares de que a desmilitarização do sistema implicaria na compra de novos equipamentos. "Não há necessidade de duplicar nada. Tudo pode ser usado pela Força Aérea e pelo controle de tráfego conjuntamente", afirmou.

Botelho reconheceu que pode ter havido responsabilidade de controladores no acidente do avião da Gol. "Ao meu ver, pode ter havido erro dos controladores. Agora, não admito que, querendo punir os controladores, não se queira punir as autoridades que não solucionam as deficiências do sistema", disse.