Título: PMDB do Senado vê complô palaciano
Autor: Costa, Raymundo e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2007, Política, p. A11

O PMDB acredita que há uma ação coordenada do PT e do Palácio do Planalto para enfraquecer a cúpula dirigente do Senado, toda ela pemedebista: o presidente da Casa, Renan Calheiros, o ex-presidente José Sarney, o líder Romero Jucá e a líder no Congresso, Roseana Sarney. O vazamento de informações sobre a Operação Navalha, que enredou pemedebistas, seria apenas o último de uma série de incidentes identificados pelos senadores, nos últimos meses, na relação do grupo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os pemedebistas não contestam a operação policial, mas o vazamento de informações de um inquérito que corre em segredo de justiça.

Os pemedebistas também julgam ter detectado uma ofensiva em larga escala do PT para retomar o Ministério das Minas e Energia, que deve comandar 55% do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - cerca de R$ 250 bilhões, entre 2007 e 2010 - e está na linha de frente de programas prioritários do governo, como os do etanol e do biodiesel. Tanto que o partido já teria apresentado três indicações para o lugar de Silas Rondeau: Maria das Graças Foster, que atualmente disputa com um pemedebista o comando da BR Distribuidora, Jorge Samek, presidente da Itaipu Binacional, e Valter Cardeal, que dirige interinamente a Eletrobrás. Os três são ligados à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

O primeiro sinal de que Lula procurava se afastar de um eventual do grupo do PMDB do Senado teria ocorrido na eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro. Os senadores apoiavam a reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), chegaram a arrancar manifestações favoráveis do presidente ao deputado, mas no fim Lula acabou ficando com o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP). Na avaliação dos petistas, a eleição de Aldo, conterrâneo e amigo de Renan Calheiros, fortaleceria ainda mais o "grupo dos quatro".

Paralelamente, Lula se aproximou do PMDB da Câmara, que até então lhe fazia oposição, e entregou aos deputados três Pastas. Na eleição para a presidência do partido, articulou com os senadores a eleição do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, mas também deixou o grupo falando sozinho quando viu que a convenção elegeria o deputado Michel Temer (SP).

Em outro momento teria se comprometido com o grupo a não nomear para a presidência de Furnas o ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde, mas depois disse aos deputados que, se havia algum veto ao nome dos pemedebistas da Câmara, este não era do Planalto. "Há um grande complô", disse um senador pemedebista, com a condição de não ser identificado - enfraquecido, o grupo não quer comprar uma briga com Lula e até já se dispõe a votar rapidamente as medidas provisórias do PAC que tramitam no Senado (oficialmente, a desculpa é que as MPs começam a vencer a partir de 1º de junho).

Em baixa, o PMDB do Senado pelo menos teve a solidariedade do PMDB da Câmara, que não pretende reivindicar o lugar de Rondeau, e decidiu se aliar aos senadores contra a tentativa do PT de retomar o Ministério das Minas e Energia. Esse foi o recado que Michel Temer passou ontem para Renan.

Ontem foi uma terça-feira nervosa para o grupo de Renan e Sarney. Renan não foi ao Senado pela manhã. Cancelou a agenda e ficou em casa, onde recebeu Sarney e aliados para discutir a crise. Num primeiro momento, ele decidiu não ir a um almoço com Lula, agendado por Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais) depois da reunião da coordenação política do governo, que discutiu a situação de Silas Rondeau. O próprio Lula ligou para Renan e ele esteve no Planalto e com Lula, primeiro sozinho e depois com o senador José Sarney.

Na véspera, o "grupo dos quatro" havia se dividido: apenas Sarney defendia o imediato afastamento de Silas Rondeau, o que aborreceu muitos pemedebistas, que viram na atitude do ex-presidente uma tentativa de auto-preservação. O problema é que o PMDB do Senado não tem um nome alternativo na manga para apresentar Lula e teme que o PT se aproveite da situação criada, e do enfraquecimento do grupo, para nomear o sucessor - o interino, aliás, já seria o secretário-executivo Nelson Hubner, que é petista.

Com o noticiário de ontem, todos concordaram que Silas Rondeau havia perdido condições políticas para se manter no cargo. Mas na conversa com Lula os pemedebistas insistiram em manter Minas e Energia com o partido. Lula teria se comprometido, mas o PMDB do Senado não está seguro da intenção do presidente.

Um dos exemplos da ação coordenada Planalto-PT mencionado é uma declaração do presidente do PT, Ricardo Berzoini, defendendo a saída de Rondeau. Na avaliação de deputados do partido, o processo de nomeações para o segundo escalão deve ser suspenso. Com essa indefinição no primeiro escalão, não há como dar prosseguimento ao preenchimento de cargos subordinados.