Título: Inglesa BG negocia com Petrobras venda de gás natural liqüefeito
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2007, Empresas, p. B1

Ainda é uma conversa entre duas gigantes do setor de petróleo e gás. Mas tem tudo para virar um contrato no futuro. A britânica BG, que no Brasil controla a distribuidora de gás natural Comgás, está negociando com a estatal brasileira Petrobras acordos para a venda de Gás Natural Liqüefeito (GNL). "Sim, estamos falando com a Petrobras para nos tornamos fornecedor da empresa em GNL", contou Rick Waddell, vice-presidente executivo da BG para América do Sul, em entrevista ao Valor.

Procurada, a estatal brasileira confirma os entendimentos. E acrescenta que está negociando com 20 companhias contratos firmes e spot para o fornecimento de GNL. Entre essas duas dezenas de fornecedores mundiais, está a BG, diz a Petrobras.

Com presença em 25 países e um volume de negócios global que beira os US$ 14,2 bilhões, a BG tem capacidade de regaseificar 16,7 milhões de toneladas por ano de GNL. E o executivo do grupo britânico lembra que, apesar de existir sazonalidade de demanda por este tipo de insumo, a estratégia da Petrobras faz muito sentido. "É preciso haver diversificação de fontes para se ter segurança energética", acrescenta Waddell.

Contudo, apesar de as conversas com a Petrobras estarem em curso, Waddell conta que os projetos da BG não se limitam ao fornecimento de GNL no continente. Mesmo com foco na inauguração de um terminal de regaseificação no Chile em 2009, cuja capacidade será de 6 milhões de metros cúbicos por dia e investimentos de US$ 700 milhões, a BG tem um audacioso plano para ampliar e alterar sua atuação na América do Sul. E essa alteração passa necessariamente por Bolívia e Brasil.

Waddell contou ao Valor que atualmente a empresa está focada no transporte e distribuição de gás natural na América do Sul. Tanto que essas atividades dão uma representatividade de 10% no lucro líquido global da BG, que é de US$ 2,2 bilhões, para a região. No lucro operacional, que somou US$ 5,8 bilhões em 2006, o continente colabora também com 10%.

Mas a mudança pretendida pela BG não recai exatamente sobre números. Isso, porque a multinacional está disposta a colocar um pé na exploração e extração de gás e petróleo na América do Sul. Áreas para expansão não serão obstáculo, já que o grupo britânico tem oito campos sendo pesquisados no Brasil e mais dois blocos na Bolívia. "Esses dois blocos bolivianos têm vários campos inseridos", explica Waddell.

Para o executivo da BG, a companhia saberá se vai conseguir avançar nessa estratégia de diversificação em 2010, quando as pesquisas a respeito de prospecção e extração desses campos vão revelar se há hidrocarbonetos a serem explorados no continente.

Dentro desse plano de expansão, Waddell afirma que a BG não tem a menor intenção de deixar a Bolívia e garante que a empresa tem cumprindo os contratos. "O nosso desejo é desenvolver os campos desses blocos. Mas antes de fazermos qualquer movimento, precisamos checar se há interesse do mercado por esse gás natural, se há condições de transporte e se as condições de instalação de uma refinaria já foram negociadas com o governo da Bolívia", detalha o executivo.

Além da Comgás e dos campos de extração em que detém participação, a BG participa do Gasoduto Cruz del Sur (40%) e também tem uma parcela da distribuidora de gás natural de Buenos Aires, na Argentina, a MetroGas. "A América Latina responde por quase a totalidade do setor de transporte e distribuição de gás natural da BG no mundo. São mais de 2,5 milhões de consumidores na região", diz Waddell.

Mesmo a Petrobras não revelando detalhes sobre as conversas com o grupo britânico, as negociações com tantos fornecedores são fundamentais para ampliar a segurança energética no Brasil. E o primeiro passo já foi dado em abril deste ano, quando a estatal brasileira assinou um contrato para o afretamento de dois navios para transporte e regaseificação de gás natural com a norueguesa Golar LNG.

Capazes de regaseificar 21 milhões de metros cúbicos por dia, os dois navios já têm destino certo. Um deles seguirá para o Rio de Janeiro e outro irá aportar no Ceará. A previsão da Petrobras, inclusive, é que a primeira embarcação entre em operação em abril de 2008 e o segundo no primeiro trimestre de 2009.