Título: Bunge Fertilizantes acerta joint venture no Marrocos
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2007, Agronegócios, p. B12

A Bunge Fertilizantes, braço brasileiro de adubos da multinacional Bunge Ltd, sediada em Nova York, anunciou ontem a criação de uma joint venture no Marrocos com a estatal local Office Cherifien des Phosphates (OCP). Batizada de Bunge Maroc Phosphore, a joint venture deverá contar com uma fábrica em operação inicial já a partir de meados de 2008. Avaliada em US$ 350 milhões, a unidade começou a ser erguida pela OCP antes da consumação da associação.

"Trata-se do nosso primeiro ativo de porte fora do Brasil", afirmou Mário Barbosa, presidente da Bunge Fertilizantes, ao Valor. O grupo está investindo US$ 30 milhões em uma fábrica de superfosfato simples (insumo derivado do fosfato) na Argentina, e Barbosa disse que seu plano de internacionalização prevê outros aportes.

No Marrocos, a planta da nova joint venture produzirá matérias-primas derivadas do fosfato, inclusive P2O5, uma importante fonte de fósforo. No Brasil, o fósforo é usado sobretudo em formulações de adubos usados em terras pobres do cerrado para o plantio de soja. Em 2006, o país importou mais de 60% de seu consumo de matérias-primas fosfatadas.

Quando estiver rodando a pleno vapor, em 2010, a fábrica marroquina ofertará 375 mil toneladas de P2O5 por ano, destinadas aos mercados brasileiro e argentino. Barbosa estima que o Brasil ficará com 80% desse volume.

"É uma parceria importante, uma vez que 80% das reservas de fosfato do mundo estão no Marrocos", disse Barbosa. Segundo fontes do ramo, a parceria também pode ser encarada como um passo para a Bunge Fertilizantes equilibrar, do ponto de vista da produção de matérias-primas, a disputa com suas principais rivais no Brasil, as também múltis Yara (Noruega) e Mosaic (EUA), que mantêm reservas relevantes no exterior.

No mercado de fertilizantes, o nome do jogo é matéria-prima. Quem controla as principais fontes de fosfato, potássio e nitrogênio, que em percentuais distintos formam os fertilizantes acabados vendidos aos agricultores, tem mais autonomia e costuma colher melhores margens de lucro.

Daí as divergências no Brasil em torno da proposta de incorporação da Bunge Fertilizantes pela Fosfertil, anunciada por ambas no fim de 2006. Em um mercado dependente de importações, a Fosfertil é a maior fabricante de matérias-primas para adubos, e seu controle, nas mãos da holding Fertifos, é dividido por Bunge, Mosaic e Yara, rivais do mercado de fertilizantes acabados. Mosaic e Yara são contra a união, que resultaria em uma empresa com faturamento superior a R$ 5 bilhões por ano. A briga está na Justiça, e decisão de ontem da Terceira Turma de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve o processo de incorporação paralisado.