Título: Apesar do câmbio, contratações crescem mais que em 2006
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2007, Brasil, p. A3

Nem mesmo a queda mais brusca do câmbio, que rompeu a barreira dos R$ 2, está impedindo os setores exportadores e intensivos em mão-de-obra de contratarem novos funcionários. O mesmo tem ocorrido em outros ramos da indústria como no de material de transporte, metalurgia, química e de alimentos.

Por conta disso, Fábio Romão, da LCA Consultores, acredita que os dados de emprego, sejam eles do Caged, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) ou do IBGE, não mostram uma "desindustrialização" da economia brasileira. "O emprego industrial cresce nos últimos meses e essa expansão não é concentrada em poucos segmentos, ela se espraia pela indústria" , argumenta.

Impulsionada pela região Sul, o segmento têxtil e do vestuário ampliou em 24,5 mil a quantidade de vagas com carteira assinada no primeiro quadrimestre deste ano. Só os Estados sulistas foram responsáveis por quase a metade (12 mil) desses postos. É um número bem melhor do que a criação apurada nos quatro primeiros meses de 2006 nessa região, que foi de 7,5 mil vagas.

A indústria de calçados, apesar do fechamento de muitas empresas, tem conseguido se recuperar desde meados do ano passado. Neste ano, foram mais 15,3 mil novos postos, concentrados no Sudeste (11 mil) e no Sul (3,5 mil). As empresas paulistas tiveram mais sucesso na tentativa de driblar a apreciação cambial: agregaram valor a seus produtos e também colocaram parte da produção no mercado interno. Já as do Sul, embora tenham participado com menos vagas, mostram uma reação significativa em relação a 2006. No ano passado, o saldo entre contratações e demissões ficou negativo em 1 mil postos de trabalho.

Embora os números dos dois setores sejam positivos, eles indicam, na verdade, uma recuperação, pois estão longe dos patamares de 2004, quando a produção da indústria brasileira cresceu mais de 8%. "As perspectivas para esses e outros setores são positivas. A melhora da economia da região Sul também será importante para o desempenho do emprego industrial neste ano", lembra Romão.

A indústria de alimentos, açúcar e álcool, com grande peso na atividade industrial, será outro destaque. E não somente pelo aumento da demanda por álcool combustível. O bom desempenho da produção de alimentos, impulsionada por um mercado interno que tem um consumidor com mais renda, também terá papel fundamental.

Dois setores, no entanto, já acenderam a luz amarela: o de material elétrico e de comunicação e o de madeira e mobiliário. Eles estão sofrendo as conseqüências do câmbio importado e não conseguem mostrar reação. O primeiro por conta da concorrência de importados no mercado doméstico, principalmente da China, e o segundo por ter perdido contratos de exportação uma vez a valorização do real obrigou as empresas a reajustarem preços. (RS)