Título: Dono do grupo Tata vem ao Brasil para ampliar negócios
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2007, Brasil, p. A6

Como demonstração pessoal do forte interesse em ampliar suas atividades no mercado brasileiro, virá ao país, em setembro, o empresário Ratan Tata. Presidente do segundo maior grupo privado da Índia, ele despertou atenção no Brasil quando ganhou da CSN a disputa pela Corus, em janeiro, e transformou sua Tata Steel na quinta maior siderúrgica do mundo. A visita se destinará a acompanhar diretamente negociações que representantes do grupo Tata mantêm com potenciais sócios brasileiros, em ramos como a siderurgia, indústria alimentícia e setor automobilístico.

O grupo Tata, avaliado em US$ 22 bilhões, é dono do hotel onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se hospedará em sua viagem a Índia, fornecedor do chá consumido pela maioria dos indianos, de automóveis que transportarão parte da comitiva presidencial, de serviços de telefonia e internet e de outras incontáveis mercadorias e serviços. Em Mumbai, centro industrial do país, fornece energia. O bilionário Tata prepara-se para uma segunda fase no ingresso de sua empresa no mercado brasileiro.

Ele chegou ao Brasil em 2002, ao associar sua TBS, da área de serviços de software, com a brasileira TBA, de quem comprou as ações neste mês. Foi com o dinheiro obtido com as operações da TBS que Tata, a partir de 1991, reorganizou a empresa familiar que começara a dirigir e a transformou em um dos símbolos mais reluzentes do novo capitalismo indiano. No Brasil, a filial da TBS, agora sob controle integral de Tata, presta serviços para o ABN Amro, a Equifax e a Brasil Telecom, e o empresário busca consolidar a presença no Brasil com outras empresa do grupo. Está em conversas com fornecedores brasileiro de minério, para possíveis joint-ventures e tem planos para o setor de alimentos.

Tata disputou com a Coca-Cola e perdeu a compra da Matte Leão. Sua empresa tem mirado o mercado de bebidas energéticas, e, segundo revela o cônsul honorário da Índia em Minas Gerais, Elson de Barros Gomes Júnior, Tata está "prospectando outras empresas" no ramo de bebidas, onde poderia ter participação minoritária. Também na siderurgia, ele procura parceiros no Brasil e estende seu interesse às processadoras de alimentos, revela Gomes Júnior. Foi com o chá que Tata projetou seu nome no mercado mundial, ao comprar a inglesa Tetley para sua Tata Tea.

Ratan Tata foi escolhido para presidir, representando a Índia, o Fórum de Altos Executivos (CEO) que será criado durante a visita de Lula ao país, e deve anunciar durante a visita do presidente alguns de seus planos para o Brasil. Reservado a ponto de ter transformado em lenda sua aversão à publicidade, está na mira do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, que também quer um encontro com o empresário. Em entrevista recente, ele afirmou que a empresa só pretende expandir atividades onde puder ter uma participação expressiva do mercado - seria contraproducente buscar fatias pequenas do mercado, argumentou.

Tata chegou a negociar por um ano a possibilidade de produzir carros em Minas Gerais, mas, após comprar a filial da Fiat na Índia, decidiu-se pela fabricação, em Córdoba, na Argentina, de uma picape média, que começará a ser fabricada no fim de 2008, com mecânica fornecida pela fábrica da Fiat na cidade mineira de Sete Lagoas. As autoridades de Minas ainda têm expectativa de que Tata escolha o Brasil para iniciar, no Estado, a fabricação de seu planejado carro popular, a ser vendido na região por um preço próximo a US$ 5 mil.

No ano passado, procurada pela Marcopolo, a Tata criou uma joint-venture com a empresa brasileira de carrocerias para construção de uma fábrica de ônibus, em um investimento previsto de US$ 44 milhões, de olho no nascente transporte rodoviário no país, onde as ferrovias são o principal meio de transporte. O projeto de expansão internacional do indiano abarca toda a América Latina e é um brasileiro, ex-executivo da Fiat, Higino Leonel da Silva, o encarregado de montar a rede de distribuição dos automóveis Tata em países como a Venezuela, Chile e Peru.