Título: Construção encarece 7,58%
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2010, Economia, p. 14

Aquecido, o mercado sofre pressão de insumos e falta de trabalhadores. Sozinho, o item produziu uma inflação de 9,91% em 2010

Os preços de insumos, produtos e serviços relacionados à construção civil aceleraram no último levantamento realizado este ano pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) passou de 0,36% para 0,59% em dezembro e acumulou alta de 7,58% em 2010. O forte avanço, acima dos 5,25% medidos até novembro pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, exibe a efervescência e os desequilíbrios do setor. As maiores pressões são observadas nos salários dos trabalhadores, sinais de um aquecimento sem precedentes nas últimas três décadas, mas também de escassez de mão de obra.

Os salários foram responsáveis por mais de 70% da inflação registrada pelo INCC-M, de acordo com a coordenadora dos projetos de construção do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), Ana Maria Castelo. ¿Reflete a movimentação do setor, mas também a questão que virou primordial: a falta de trabalhadores. O segmento usou exaustivamente toda a sua força produtiva e estamos vendo não só escassez de profissionais superqualificados, mas também de pedreiros e ajudantes¿, avaliou.

Entre os três componentes do indicador, o grupo mão de obra foi o que mais acumulou alta no ano ¿ 9,91%, ante 6,76% de serviços e 5,11% de materiais e equipamentos. O comportamento resulta das negociações salariais que, em 2010, renderam reajustes médios entre 8% e 10% nos rendimentos na maioria dos estados. Em dezembro, o INCC-M foi

influenciado pelo aumento de 10% nos salários dos trabalhadores de Belo Horizonte, capital na qual a inflação da construção acelerou de 0,1% em novembro para 4,16% em dezembro.

Barganha Incrementos salariais nessa magnitude só são possíveis em um contexto no qual a mão de obra é pouca, avalia Henrique Santos, economista da corretora Ativa. ¿O aumento real dos vencimentos está em sintonia com o cenário macroeconômico. É o mesmo poder de barganha que tiveram os metalúrgicos e outras categorias, algo que só ocorre quando não há muitos trabalhadores sobrando¿, considerou.

Se depender das perspectivas para o setor, o quadro não deve se alterar no próximo ano, ressalta Ana Maria. ¿Nos últimos quatro anos, os reajustes foram acima da inflação e nada indica que as categorias tenham menos sucesso em 2011.¿ Para Santos, no entanto, os ganhos reais podem ser menores. ¿Vamos continuar vendo escassez de mão de obra e os reajustes continuarão acima da inflação, mas não tanto.¿

Entulho Além dos salários, alguns materiais também pesaram na inflação acumulada em 2010 no setor da construção. Foram os casos dos condutores elétricos (27%), cerâmica (15,7%) e pedra e areia (12%). A recomposição de preços e a influência do cobre ¿ commodity negociada no exterior ¿ explicam, na visão da FGV, as pressões sobre os condutores. Em 2009, o insumo teve queda de quase 12% no custo. O encarecimento da cerâmica, pedra e areia está relacionado às questões ambientais e à capacidade limitada das fontes de extração. Ana Maria destaca, no entanto, que não houve nenhum problema generalizado de fornecimento de matérias-primas, uma vez que a demanda excedente foi suprida pelo grande volume de importações.

Entre os serviços de construção, o carreto de entulho foi o que mais se destacou no ano, com alta de 14,7%. ¿Os serviços respondem naturalmente ao aquecimento da demanda e, no geral, acabam mais pressionados quando o setor vai bem¿, avaliou a coordenadora da FGV. Em contrapeso à carestia em parte da cesta de produtos do setor, alguns itens com peso elevado na composição do INCC-M acumularam deflação em 2010, como os vergalhões e os arames de aço. Ambos os insumos, presentes nas estruturas das obras, registraram queda de 5,18% no ano. Somente em dezembro, o recuo desses materiais foi de 1,81%.

Recuo em Brasília A inflação da construção medida pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) desacelerou em Brasília de 0,82% para 0,28% em dezembro. O enfraquecimento é resultado de um efeito calendário ligado aos reajustes salariais. Na capital federal, o setor teve uma correção média de 8% em junho e um acréscimo de 2,5% em novembro. Sem a pressão do incremento na renda, o indicador perdeu força no último mês do ano.

Expectativas pioram

Victor Martins

O mercado financeiro piorou pela terceira semana seguida as projeções para a inflação de 2011, o primeiro ano do governo Dilma Rousseff. Os mais de 100 analistas ouvidos no Boletim Focus, do Banco Central, elevaram as expectativas do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 5,31% no período, percentual distante do centro da meta perseguida pela autoridade monetária, de 4,5%. O consenso entre os especialistas é que, com o encarecimento do custo de vida e a piora das expectativas, o BC será obrigado a subir os juros pelo menos em 0,5 ponto percentual em janeiro.

Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, as seguidas elevações das estimativas nas últimas semanas ocorreram principalmente em função de alta no preço dos alimentos. ¿Houve quebra em safras importantes, o que reduziu a oferta de produtos e, consequentemente, aumentou o custo deles aos consumidores¿, disse. ¿Além dos alimentos, várias pressões fizeram com que todos revisassem suas expectativas. Houve ainda uma demanda acelerada, acima do usual, que influenciou os cálculos dos analistas¿, explicou. A projeção é que, a partir de janeiro, um novo ciclo de aperto monetário se inicie. Após um ajuste de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em janeiro, o Fibra espera mais três elevações seguidas, na mesma proporção, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Fora da meta Neste ano, a inflação está praticamente dada e ficará próxima do teto da meta, estipulado em 6,5%. As projeções dos analistas para 2010 são de que o índice chegue aos 5,9%. ¿Tanto os juros futuros quanto a pesquisa mostram que, em função de uma inflação maior, superando até os cenários desenhados pelo BC, deve haver um aperto monetário em janeiro, como sinalizou o último relatório de inflação¿, constatou o economista Eduardo Otero, sócio da corretora Progredir Investimentos.

O resultado do último IPCA do ano será conhecido em 6 de janeiro. A expectativa do mercado é que essa medição mensal registre alta de 0,63% e, no mês seguinte, após a provável elevação da Selic em até 0,5 ponto percentual, apresente relativa estabilidade, variação de 0,64%. Maristella explicou que todas as projeções para a inflação em 2011 devem se acomodar nos níveis atuais, ao menos nos próximos dois levantamentos do Focus. ¿O último relatório de inflação do BC veio com uma sinalização de alta da Selic, justamente para que as projeções parem de piorar¿, apostou.

MELHOR NATAL EM SEIS ANOS » A farra do crédito e do consumismo fez deste Natal o melhor dos últimos seis anos. Em relação à semana da festa do ano passado, as vendas do comércio avançaram 15,5%, de acordo com os dados da consultoria Serasa Experian. Na avaliação da empresa, além do crédito farto, o elevado nível de emprego e a expansão da massa salarial também permitiram a elevação no volume de compras ao melhor patamar desde 2004 ¿ ano em que os negócios foram 16,1% maiores em relação à semana do Natal de 2003. O desempenho no período natalino de 2010 superou ainda as expectativas do empresariado. Lojistas e comerciantes previam um crescimento de 10,5% sobre os resultados obtidos em 2009. Conclusão: as medidas de contenção do crédito adotadas pelo Banco Central ainda não tiveram o efeito esperado sobre o comportamento do brasileiro.

Ligeiro recuo nos juros

O consumismo do brasileiro que impulsionou o país em 2010 foi garantido, em parte, pelo crédito mais barato. Segundo a Pesquisa de Juros Bancários do Procon de São Paulo, a taxa média do empréstimo pessoal ficou em 5,26% ao mês ¿ comparado ao ano passado, houve um recuo de 0,23 ponto percentual. Contudo, as medidas de restrição creditícia, anunciadas pelo Banco Central no início de dezembro, devem reverter a tendência de queda que perdurou durante o ano. Nos primeiros meses de 2011, o levantamento deve passar a captar a elevação dos juros. Até o cheque especial, modalidade de crédito que disputa com o rotativo do cartão de crédito o posto de juros mais pesados do país, apresentou recuo entre 2009 e 2010. De acordo com a pesquisa, a taxa média do ano ficou em 8,88% ao mês ¿ percentual 0,05 ponto percentual inferior às taxas cobradas no ano passado.

Efeito Em dezembro, mesmo após as medidas restritivas do BC, o Procon não captou elevações para o empréstimo pessoal e para o cheque especial. ¿O efeito prático dessas medidas será a redução no número de financiamentos concedidos pelos bancos e a elevação dos juros para o próximo ano¿, avaliou a instituição, por meio de uma nota publicada em sua página na internet.

De 10 bancos avaliados na pesquisa, nove mantiveram suas taxas inalteradas depois que o BC anunciou as resoluções que reduziram o número de parcelamentos e impôs um custo maior para os financiamentos de longo prazo. Apenas o HSBC reduziu a taxa do empréstimo pessoal entre novembro e dezembro, de 4,82% para 4,30% ao mês. (VM)

R$ 153,6 bi do BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 153,6 bilhões entre janeiro e novembro deste ano, um volume de empréstimos 31% acima do que foi concedido no mesmo período de 2009. O montante acumulado supera em 11% os desembolsos feitos durante todo o ano passado. Ficou ainda bem acima da estimativa inicial, de R$ 146 bilhões, feita pelo presidente da instituição, Luciano Coutinho. Mas os desembolsos ainda aumentarão, porque as aprovações de financiamentos pelo banco somaram R$ 174,1 bilhões no ano, e as consultas, R$ 238,4 bilhões.

O aumento foi influenciado, segundo o BNDES, pela operação de capitalização da Petrobras, realizada no fim de setembro. Sem ela, os desembolsos até novembro somariam R$ 128,8 bilhões, valor 10% acima do registrado em 2009. Os empréstimos do BNDES para as micro, pequenas e médias empresas atingiram volume recorde de R$ 41,1 bilhões entre janeiro e novembro. A participação desse segmento no total das liberações da instituição teve um salto de 27% neste ano. O número de operações com as micro, pequenas e médias empresas somou 501,3 mil, um recorde. O Programa de Sustentação do Investimento (PSI), com R$ 26,8 bilhões liberados às pequenas, e o Cartão BNDES, com cerca de 280 mil operações, explicam grande parte do resultado.

Para a indústria, os desembolsos do BNDES somaram R$ 73,2 bilhões até novembro, o equivalente a 47% do total dos desembolsos, e, para o setor de infraestrutura, foram R$ 47 bilhões (participação de 31%). O destaque foi o segmento de transporte rodoviário, com de R$ 23,6 bilhões em empréstimos, volume 96% acima de igual período de 2009. Alimentos e bebidas ficaram com R$ 12,8 bilhões, registrando alta de 115%.