Título: Índia pediu e Lula leva na comitiva dirigentes para ajudar o futebol do país
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Fonte: Valor Econômico, 31/05/2007, Brasil, p. A6

Desta vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá além das tradicionais metáforas futebolísticas encaixadas em seus discursos: na viagem que fará à Índia, na semana que vem, levará dirigentes de um clube de futebol, o Cruzeiro, e do Clube dos 13, união dos 20 maiores clubes de futebol brasileiros.

A comitiva é uma resposta de Lula ao pedido feito a ele pelo primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, de uma ajuda brasileira para garantir a presença da Índia na Copa do Mundo de 2014, que deverá ser no Brasil. Os clubes vêem no interesse indiano a chance de ganhar dinheiro com o incipiente futebol no país.

O Clube dos 13 deverá firmar um acordo de cooperação com a recém-criada All India Football Federation, que é presididida pelo Ministro da Informação e Difusão da Índia, Priyaranjan Das Munsi. Das Munsi terá um encontro com o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, que vê a Índia como uma extensão do plano de negócios previsto pelos clubes para a Ásia. A estrela desses planos é a venda, a países como o Japão, Cingapura, além de Hong Kong e da própria Índia, de produtos ligados à transmissão esportiva por telefones celulares de terceira geração.

"A venda de serviços vinculados ao esporte, principalmente treinamento, gerou US$ 158 milhões ao Brasil em 2005, só 2,5% do total da venda de serviços", diz Fábio Koff, que vê no mercado asiático potencial para gerar, no mínimo, o equivalente aos R$ 300 milhões anuais que obtém com a venda das transmissões do Campeonato Brasileiro às emissoras de televisão no país. "Temos uma grande expectativa de mercado com o 3G (celulares de terceira geração)", conta, ao contabilizar 70 milhões de aparelhos com essa tecnologia, só no Japão.

O futebol é um esporte pouco apreciado na Índia, onde tem aficcionados especialmente no Estado de Goa e na cidade de Calcutá. O governo indiano tem lamentado, porém, a perda de importância do esporte no país, que chegou a ter uma seleção em campeonatos mundiais, e está disposto a estimular a expansão, com intercâmbios de jogadores e técnicos, e apoio de empresas do setor privado, como o grupo Tata, que já financiou a ida do São Paulo para jogos e treinos em Nova Déli.

"Queremos que a venda de serviços não se limite ao envio de jogadores para o exterior", comenta Koff. O Clube dos 13 escolheu três linhas de atuação, na venda de serviços ligados ao futebol, na Ásia. A que mais desperta entusiasmo é a transmissão de jogos, lances ou trechos de partidas por celular, sob demanda dos usuários. Outra opção é a venda de um canal especializado em futebol, ao qual os clubes pretendem agregar programas curtos de música, turismo e outros aspectos comercializáveis da cultura brasileira. Há planos, também, para venda de jogos ao vivo, dependendo do fuso horário. As transmissões de futebol poderiam se beneficiar do hábito asiático de fazer apostas, criando um novo produto para esse mercado, imaginam os técnicos ligados ao Clube dos 13.

Na visita à Índia com Lula, os dirigentes esportivos pretendem encontrar possíveis sócios e firmar acordo de intercâmbio de jogadores e técnicos. O Cruzeiro, de Minas Gerais, também aposta nessa via, com o apoio entusiasmado do governo brasileiro. (SL)