Título: País já perdeu US$ 2,7 bi desde 1991 devido a barreiras comerciais dos EUA, mostra estudo
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2007, Brasil, p. A6

A recente reaproximação diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos foi incapaz até agora de promover a remoção das diversas barreiras que prejudicam o comércio entre os dois países, como demonstra um novo relatório sobre o assunto apresentado ontem pela embaixada do Brasil em Washington.

O documento estima que os exportadores brasileiros acumularam perdas de US$ 2,7 bilhões desde 1991 devido a algumas dessas barreiras, tarifas antidumping e direitos compensatórios aplicados pelos EUA para inibir a entrada de empresas beneficiadas por subsídios ou que praticam preços considerados irreais pelo governo americano.

Algumas tarifas foram revogadas no ano passado, mas a maioria continua em vigor. Elas afetam principalmente produtos da indústria siderúrgica, mas também prejudicam produtores brasileiros de suco de laranja e camarão congelado. Padrões sanitários e outras restrições barram a entrada de carne bovina, suína e de frangos in natura, sem ser processada industrialmente.

O embaixador do Brasil em Washington, Antonio Patriota, minimizou as dificuldades enfrentadas pelos empresários brasileiros ao apresentar o relatório, dizendo que as exportações brasileiras para os EUA cresceram nos últimos anos apesar das barreiras impostas contra os produtos brasileiros.

O Brasil exportou no ano passado US$ 26 bilhões para os EUA. Na introdução do relatório, o embaixador observa que o Brasil vendeu mais para os EUA do que países como a Rússia e a Índia, mas o documento ignora as evidências de que esses competidores têm aumentado sua fatia no mercado americano bem mais rápido que o Brasil.

Uma das principais barreiras enfrentadas pelo país hoje nos EUA é a tarifa que encarece a importação de etanol brasileiro, cujas usinas são muito mais eficientes que as americanas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu várias vezes neste ano ao seu colega americano, George W. Bush, a remoção da tarifa. Mas a legislação dos EUA garante sua manutenção até o fim de 2008 e Bush avisou que nada mudará antes disso.

Os americanos também se recusam a cumprir a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) que considerou ilegais subsídios pagos aos produtores de algodão dos EUA, numa ação movida pelo Brasil. Alguns programas foram eliminados em 2006, mas o grosso dos benefícios condenados pela OMC continua em vigor.

Patriota disse que a remoção dessa e das demais barreiras vai depender do sucesso das negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio, que estão praticamente paralisadas desde julho do ano passado por causa de diferenças entre países ricos e em desenvolvimento sobre subsídios agrícolas, tarifas e outras questões.

"Está viva a expectativa de que a rodada se conclua até o fim do ano", disse Patriota. "Forçosamente uma conclusão exitosa da rodada se refletirá no comércio bilateral também entre o Brasil e os EUA. "Diplomatas brasileiros, americanos, europeus e indianos têm conversado com freqüência sobre o assunto, mas não chegaram a um acordo para reabrir as discussões da rodada.

O fracasso das negociações traria para o Brasil o risco de ver sua participação no mercado americano encolher ainda mais. Como o relatório da embaixada mostra, países que assinaram com os EUA acordos que lhes dão acesso preferencial ao mercado americano estão livres de barreiras como as impostas ao Brasil e levam vantagem no comércio de vários produtos.