Título: Caos aéreo na posse de Dilma Rousseff
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Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2010, Economia, p. 15

Aeroviários ameaçam cruzar os braços em 1º de janeiro. Ontem, após três dias de calmaria, quase 20% dos voos atrasaram

Os aeronautas e aeroviários prometem cruzar os braços no próximo sábado, dia 1º de janeiro, caso as negociações com os patrões não sejam retomadas. ¿Tudo será decidido na quarta-feira, mas a tendência é essa. Escolhemos o dia 1º de janeiro por causa da posse¿, disse a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA), Selma Balbuíno. Caso a promessa seja cumprida, os aeroportos brasileiros devem ficar abarrotados no feriado de ano-novo. ¿Aqueles que tirariam férias em dezembro já tiveram as folgas suspensas, para atender à demanda, e as empresas não têm condições de colocar mais pessoas¿, completou Balbuíno.

No início da semana, os funcionários das empresas aéreas ameaçaram entrar em greve e a Justiça Federal no Distrito Federal expediu liminar que estendia até 10 de janeiro a proibição de greve da categoria, sob pena de multa de R$ 3 milhões por dia no caso de descumprimento. Na noite da última quinta-feira, a liminar foi derrubada, mas ficou mantida a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que determina atividade de 80% do efetivo até 2 de janeiro, sob pena de aplicação de multa de R$ 100 mil por dia. A categoria deve recorrer da decisão amanhã. ¿Nosso advogado já está preparando o recurso. Por lei, é exigido apenas 30% do efetivo trabalhando¿, reclamou a presidente do sindicato.

A reivindicação inicial da classe era um reajuste salarial de 15%, reduzido para 13% por falta de acordo. Os aeroviários e aeronautas também lutam pela criação de novos pisos salariais, com ganho de 30%, e pela criação de um piso para os operadores de equipamento de viatura ¿ aqueles veículos que circulam na pista dos aviões levando bagagem e mantimentos. De acordo com o SNA, a categoria rejeita qualquer proposta com percentual abaixo de dois dígitos. As companhias ofereceram inicialmente um reajuste de 6,5%, que já subiu para 8%. O índice, no entanto, não foi aceito.

Movimento Depois da relativa calma dos últimos três dias, aqueles que precisaram voar na segunda-feira enfrentaram transtornos nos principais aeroportos brasileiros. Mais uma vez, o índice de atrasos em decolagens subiu e, até as 18h, a taxa nacional chegou a 19,6 % ¿ dos 1.951 voos programados, 383 saíram 30 minutos depois do previsto e 93 foram cancelados. A maior parte dos problemas foi causada pela companhia aérea Webjet, que registrou 60,9%, recorde da última semana. Em nota, a empresa alegou que os atrasos foram ocasionados pelo mau tempo no fim de semana e na manhã de ontem, principalmente, em Ribeirão Preto (SP), Foz do Iguaçu (PR) e Confins (MG).

No entanto, segundo a assessoria de imprensa da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), não houve fechamento de aeroportos por problemas meteorológicos. Um casal de idosos, que ia do Rio de Janeiro a Brasília em um voo da Webjet, teve de ser transferido para um avião da Gol por conta do atraso. Ainda assim, Alexandre de Franciscis, 72 anos, e Neuza Franciscis, 70, ficaram mais de seis horas entre os dois aeroportos. A filha, Andréia de Luca, 45, foi buscá-los e reclamou do serviço da empresa. ¿A decolagem estava prevista para 10h28, mas meus pais só chegaram às 16h20, quando ofereceram o almoço. É um absurdo, porque minha mãe é diabética e meu pai já sofreu um infarto¿, reclamou. Por volta de 17h30, a bagagem do casal, que estava no avião da Webjet, chegou à Brasília.

O gerente de informática Ezio Custódio, 49 anos, e a mulher Zeilza Custódio, 34, também sofreram com a ineficiência da companhia. Eles enfrentaram quatro horas de atraso no aeroporto de Brasília. O voo do casal, para Salvador (BA), estava previsto para sair as 15h56, mas foi remarcado para às 20h. Keila Cristina Barbosa, 28 anos, mãe da Sofia de Moura, 4 meses, foi ao juizado especial reclamar do tempo que esperou para ir a Foz do Iguaçu (PR) em um avião da Webjet. Seu voo estava marcado para 11h57, mas ela só conseguiu embarcar cinco horas depois. ¿Estão nos fazendo de palhaços. Minha filha está chorando desde que chegamos e ainda não tomou banho¿, queixou-se.