Título: Atividade acelera no segundo trimestre
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2007, Brasil, p. A3

Indicadores já divulgados da indústria e do comércio sugerem uma aceleração da atividade no segundo trimestre em relação ao primeiro. Há sinais de que as vendas no varejo continuam a crescer com força, a construção civil avança a um ritmo mais forte e há segmentos da indústria de transformação que mostram resultado bastante positivo, como a automobilística e a de bens de capital. O desempenho se deve a efeitos defasados dos cortes dos juros sobre a atividade econômica, à expansão significativa da renda e à oferta abundante de crédito a prazos longos.

Na indústria, um dos principais destaques é sem dúvida o setor automobilístico. Em maio, a produção de veículos avançou 1,8% na comparação com abril, na série livre de influências sazonais, de acordo com cálculos da LCA Consultores. O economista Bráulio Borges, da LCA, lembra ainda que as vendas de veículos têm apresentado um resultado muito positivo. Números da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) indicam que o licenciamento de automóveis cresceu 5,9% em maio na comparação com abril, mês em que já havia ocorrido um aumento de 2% em relação a março, também com ajuste sazonal.

Divulgado ontem, o Sinalizador da Produção Industrial (SPI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) também sugere um bom para maio, projeta uma expansão de 2% da indústria em São Paulo, na comparação com o mês anterior, em termos dessazonalizados. "Os sinais do segundo trimestre são de aceleração do ritmo de crescimento", diz Borges.

Depois do comportamento decepcionante no primeiro trimestre, a construção civil já registrou expansão bem mais firme em abril, como nota o economista Sérgio Vale, da MB Associados. Se de janeiro a março a produção de insumos típicos para a construção aumentou apenas 2,4% em relação ao mesmo período do ano passado, em abril houve um salto expressivo, de 7,4%. Os juros em queda e a melhora das condições de financiamento, com taxas fixas e prazos longos, dão alento ao setor. "Além da construção, a indústria e a agropecuária devem levar a uma aceleração da atividade no segundo trimestre", diz Vale.

Vale diz ainda que a produção industrial em abril, apesar da queda de 0,1% em relação a março, na série com ajuste sazonal, mostrou um bom desempenho do setor, ao registrar alta de 6% quando comparada com o mesmo mês de 2006. A produção de bens de capital, por exemplo, cresceu 17,4%.

O comércio varejista paulista também teve um desempenho melhor a partir de abril, como indicam números da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). No primeiro trimestre, as consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC, termômetro de vendas a prazo) e ao Usecheque (ligado às compras à vista) aumentaram, em média, 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado. De abril a 12 de junho, essa média ficou em 6,4%. "É uma aceleração moderada. Não se pode dizer que seja algo espetacular, mas tampouco que o quadro seja medíocre", diz o economista Emílio Alfieri, da ACSP.

No Pólo Industrial de Manaus (PIM), em que se concentram muitas empresas de eletroeletrônicos, a expectativa é de que, no segundo trimestre, o faturamento cresça algo próximo de 3% na comparação com o abril a junho do ano passado. É um número próximo dos 2,9% registrados no primeiro trimestre. "À medida que avançamos no tempo e nos encaminhamos para o segundo semestre, existe sempre uma tendência de melhora nos negócios", diz o presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Maurício Loureiro. Segundo ele, o número de funcionários no PIM tem sido mantido constante. Quando ocorrem contratações, se trata de mão-de-obra temporária, explica Loureiro.

Os resultados do PIB no primeiro trimestre não levaram a grandes revisões das projeções para o crescimento em 2007. Vale elevou a sua previsão de 4,3% para 4,5%, por conta da reestimativa para o desempenho do setor de serviços e das exportações. O fato de o investimento ter crescido abaixo do que ele esperava - 7,2%, e não 8,7% na comparação com janeiro a março de 2006 -não o preocupa. Para ele, é possível que redução de estoques explique o número inferior às projeções. Borges, por sua vez, acha mais provável que o mercado tenha superestimado o consumo de máquinas e equipamentos por questões metodológicas. O IBGE, segundo ele, trabalha com uma desagregação maior dos números sobre bens de capital.

O economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada, deve elevar sua projeção para o PIB, hoje em 4%, nos próximos dias, principalmente por causa das perspectivas favoráveis para a massa salarial, que avança a um ritmo forte. A Rosenberg & Associados se diz confortável com a sua estimativa de 4,3%.