Título: China promete mais arrocho
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Fonte: Correio Braziliense, 28/12/2010, Economia, p. 17

Banco Central chinês pretende usar todas as ferramentas disponíveis para reduzir o nível de crédito e combater a inflação. Declaração assusta investidores nas bolsas de valores

O Banco Popular da China (BPC, o Banco Central do país) prometeu ontem usar todos os instrumentos disponíveis para amenizar a oferta de crédito e o consumo, controlar a quantidade de dinheiro em circulação e, em consequência, combater a inflação. O alerta veio dois dias após o país ter elevado a taxa de juros, medida complementar aos diversos aumentos do compulsório (depósito que os bancos precisam fazer, reduzindo os recursos livres para empréstimos) nas últimas semanas.

¿A implementação de uma política monetária prudente é útil para fortalecer o gerenciamento de expectativas de inflação e evitar bolhas de ativos¿, disse a vice-presidente do BPC, Hu Xiaolin, em comunicado divulgado no site da instituição. ¿Nós exploraremos novas ferramentas para manter um bom controle no portão de liquidez.¿ Ela não indicou que medidas poderiam ser adotadas daqui para a frente ¿ as iniciativas clássicas para a restrição de crédito são a alta de juros e a do compulsório.

Os analistas acreditam que, além disso, o BPC só pode apertar as exigências de capital nos bancos. Outra opção seria fazer mais operações compromissadas com títulos públicos. Nelas, o Banco Central vende parte dos papéis que estão em seu poder, com a certeza de recomprá-los mais tarde. Assim, retira recursos da economia por um certo prazo. O problema dessa alternativa é que ela só produz efeitos por pouco tempo, pois a recompra deve ser feita alguns meses depois.

No sábado, a autoridade monetária elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, na segunda alta em dois meses. O governo teme a explosão do índice de preços ao consumidor, que já acumula 5,81% neste ano até novembro, o maior nível em 28 meses. Segundo a estimativa de especialistas, a inflação deve encerrar 2010 em 5,88%, bem acima da meta, fixada inicialmente em 3% ¿ o objetivo teve que ser revisto para 4%, diante do descontrole dos preços, principalmente de alimentos.

A perda no poder de compra do iuan (moeda chinesa) é causada pela maciça entrada de recursos no país tanto pela via das exportações de produtos industrializados como pelo ingresso de investimentos estrangeiros. Para se conformar ao novo cenário restritivo, o Ministério das Finanças prevê a desaceleração do crescimento econômico dos atuais 10% para algo entre 7% e 7,5% anuais de 2011 a 2015. Economistas, porém, acreditam que a expansão acabará sendo maior que a estimativa oficial.

Acima do normal ¿Não importa o cenário que o mercado assuma para o curto prazo, o crescimento na China ainda será bem acima do normal¿, disse Howard Wheeldon, estrategista de ações da BGC Capital Partners, à Reuters. A promessa de novas medidas restritivas desanimou os investidores. As principais bolsas de valores ocidentais fecharam em baixa, especialmente na Europa: Frankfurt (-1,23%), Paris (-0,98%), Milão (-1,25%) e Madri (-2,06%) ¿ não houve negócios em Londres por causa de um feriado. Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 0,16%.

SEM PERTURBAR O Banco Central do Japão ressaltou que não pode perturbar os mercados financeiros quando comprar ativos sob o novo programa de estímulo, mostrou ontem a ata da reunião de 4 e 5 de novembro. ¿Já que seria a primeira vez que o BC compraria ativamente esses ativos de risco, o banco deve levar em consideração as opiniões dos participantes do mercado e avaliar as diretrizes para a operação das compras de ativos de forma flexível, como for preciso¿, assinalou o documento. No encontro, o BC manteve as taxas de juros em zero.

EMPREGO NA INDÚSTRIA ALEMÃ A indústria da Alemanha criará 70 mil empregos no ano que vem, estimou o presidente da Câmara Alemã de Indústria e Comércio, Hans Heinrich Driftmann, ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung. ¿A indústria irá, portanto, contribuir com um quarto do crescimento no emprego¿, afirmou. Cerca de 300 mil vagas devem ser geradas em toda a economia do país. Isso representaria, no entanto, uma desaceleração. Números do Ministério do Trabalho mostraram um aumento nos postos em outubro, numa taxa anual de 400 mil. ¿Uma em cada cinco companhias industriais quer contratar novos funcionários, sobretudo em engenharia elétrica, assim como na indústria de borracha e plásticos.¿ Pela primeira vez em dois anos, os fabricantes veem suas próprias condições de negócios de forma mais positiva do que as da economia em geral.

Ano de austeridade

0A maior parte das promessas de austeridade fiscal feitas pelos países desenvolvidos entra em vigor no ano que vem, principalmente na Europa. A sobrevivência do euro como uma moeda forte vai depender da concretização dos planos de corte de despesas das nações que estão afundadas em deficits orçamentários que extrapolam em muito o teto de 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

O governo português prometeu cortes de 5% nos salários dos servidores públicos. O parlamento da Espanha aprovou um Orçamento que inclui uma redução de 7,9% nas despesas governamentais, e a Irlanda pretende reduzir os gastos em 4 bilhões de euros.

Estônia Medidas orçamentárias do tipo são uma das razões pelas quais economistas consultados pela agência Reuters acreditam que o crescimento da Zona do Euro, formada por 17 países a partir da entrada da Estônia, em janeiro, vai desacelerar para 1,5% no ano que vem, menos que a taxa já lenta de 1,7% de 2010.

Os Estados Unidos também enfrentam seu próprio combate de austeridade, com republicanos no Congresso insistindo em cortes de gastos. A perspectiva de expansão econômica para os EUA em 2011 parece um tanto melhor que a da Europa, embora as projeções norte-americanas ainda estejam abaixo do necessário para estimular o mercado de trabalho do país.

Sung Won Sohn, economista da Universidade Estadual da Califórnia, prevê um crescimento de 3% para os EUA em 2011, mas diz que a falta de empregos continua sendo a principal dificuldade. ¿Os consumidores norte-americanos querem economizar mais, pagar dívidas e deixar suas finanças em melhor forma¿, disse. ¿Enquanto eles estiverem cautelosos, em parte por causa do cenário ruim para o emprego, será difícil ter um crescimento econômico saudável.¿

O FMI estima que os países emergentes crescerão 6,4% no próximo ano, quase três vezes a taxa das nações desenvolvidas. No mundo, a expansão deve ser de 4,2%.