Título: Alta do frete não afeta competitividade
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2007, Empresas, p. B8

O minério de ferro produzido no Brasil continua a ser competitivo no mercado chinês em relação a concorrentes como Austrália e Índia apesar do aumento de mais de 100% nos fretes marítimos, disse ontem Calum Baker, gerente da área de matérias-primas da consultora inglesa CRU Strategies. Em abril de 2007, o custo do transporte de minério de ferro entre o porto de Tubarão, no Espírito Santo, e Beilun, na China, situou-se em US$ 47,88 por tonelada. No mesmo mês do ano passado, o preço do frete na mesma rota era de US$ 22,60 por tonelada. Um aumento de quase 112% em doze meses puxado pelo aumento da demanda na China.

Baker afirmou que só no primeiro trimestre do ano a China importou 100 milhões de toneladas de minério de ferro, das quais cerca de 40 milhões do Brasil. Até o fim de 2007, as siderúrgicas chinesas devem importar 400 milhões de toneladas de minério de ferro, previu Baker. Segundo ele, a alta do preço dos fretes tem sustentado o aumento da produção desta matéria-prima siderúrgica na China. O movimento ocorre já que, com custos maiores no transporte marítimo, a produção local de minério torna-se mais competitiva. Ele acrescentou que a China vem importando mais minério da Índia. De janeiro a março, os chineses compraram 9 milhões de toneladas de minério da Índia, volume recorde para um trimestre.

O analista participou de painel do 20º Congresso Brasileiro de Siderurgia, encerrado ontem em São Paulo, que discutiu a situação do Brasil no cenário mundial da siderurgia. Baker previu que as pressões entre oferta e demanda no minério de ferro continuarão fortes nos próximos dois anos, o que deverá contribuir para manter os preços do aço em patamares elevados. Entre 2001 e 2006, a produção de aço bruto mundial cresceu, em média, 7,8%. No período foram acrescentadas 390 milhões de toneladas à produção de aço do mundo. A China foi quem liderou este crescimento, salientou Baker.

Ele não quis fazer projeções sobre os percentuais de aumento para o minério de ferro em 2008, mas reconheceu que o mercado continuará ajustado até 2009. "Depois disso, haverá novas capacidades entrando e a questão será saber em que velocidade esse minério poderá chegar ao mercado", afirmou. A oferta de volumes adicionais depende das condições logísticas, salientou.

Baker lembrou que os preços do minério vêm subindo de forma consecutiva nos últimos cinco anos e estão hoje 155% acima dos níveis de 2002 em termos reais. Bancos de investimento e consultoras estimam que os preços do minério podem ter aumento entre 5% e 10% no ano que vem. A RC Consultores projeta que o minério tenha aumento de 5% em 2008.

Baker afirmou ainda que o mercado transoceânico de minério de ferro cresceu 10,9% ao ano, em média, no período 2002-2006, ante uma expansão de apenas 2,4% entre 1976 e 2002. Este mercado deverá movimentar 900 milhões de toneladas em 2008 e 1,05 bilhão de toneladas em 2011, projetou. Na visão dele, os preços das principais matérias-primas siderúrgicas, como o minério e o carvão, continuarão a pressionar para cima os preços do aço. "Enquanto as margens (das siderúrgicas) forem mantidas, elas poderão absorver os aumentos (das matérias-primas). Mas poderá haver redução de margens em algumas partes do mundo", projetou. Ele disse que a siderurgia brasileira está bem posicionada em função dos baixos custos de produção.

Renato Vallerini Júnior, diretor de exportações do grupo Usiminas, prevê que 2007 será um bom ano para a siderurgia. Ele entende que após o aumento nos preços dos produtos siderúrgicos, verificado no primeiro trimestre, deverá haver um ajuste para baixo no terceiro e quarto trimestres, mas nada brusco, argumenta. Ele diz que o mercado europeu está forte e com bom desempenho econômico. A Europa poderá importar mais aço em função da valorização do euro frente ao dólar, o que ajudaria a recompor os estoques. Com menor pressão entre oferta e demanda, os preços poderiam cair um pouco. Hoje a bobina a quente no mercado europeu está na faixa dos US$ 700 por tonelada.

Nos Estados Unidos, o mesmo produto se situa entre US$ 600 e US$ 620 por tonelada, diz Vallerini. Na China, a demanda continua forte e as exportações têm contribuído para redução dos estoques em cenário de aumento dos preços do aço.