Título: Mais tecnologia para driblar a concorrência
Autor: Koike, Beth
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2007, Empresas, p. B8

A concorrência crescente entre o aço e materiais como plástico, alumínio e vidro é um dos desafios da indústria siderúrgica. Usado desde os primórdios, o aço é ainda, sem dúvida, o material mais resistente, mas novas tendências de design pedem produtos mais leves, com formas arredondadas e de menor custo. Um exemplo dessa disputa está no setor de eletrodomésticos. "O peso de um ventilador caiu pela metade e seu custo foi reduzido em cerca de 30%, desde a substituição de materiais", disse Giovanni Marins Cardoso, diretor comercial da Mondial.

Há cerca de 20 anos, a indústria automobilística liderou o início da utilização do plástico em seus veículos. O pára-choque foi a primeira peça a ser substituída. Até então era fabricado exclusivamente com chapa de aço, e passou a ser feita de poliuretano. Hoje, várias peças, inclusive aquelas que exigem alta resistência, já são produzidas com plásticos. "A vantagem é que os plásticos dão mais leveza ao carro e possibilitam a economia de combustível", explica Edson Orikassa, diretor da Associação dos Engenheiros Automotivos (AEA) e da Toyota.

Orikassa destaca, porém, que as chapas de aço são essenciais para a carroceria. "O aço absorve muito melhor a energia em casos de impacto, não transferindo para o motorista. Um exemplo, a carroceria de um tanque de guerra é extremamente resistente para impedir que o condutor sofra danos", disse.

Diferentemente dos carros de passeio, onde substitutos já são vários, o aço predomina nas carretas dos caminhões no Brasil. O grande empecilho para a substituição do aço carbono é o custo do alumínio, que chega a ser até três vezes maior. "Com o alumínio, o caminhão ganha 10% a mais de espaço e maior leveza. Com isso, é possível aumentar a carga carregada e reduzir o gasto com combustível", afirma Rafael Wolf Campos, sócio-diretor da Boreal-Heil, fabricante de implementos rodoviários. Campos explica ainda que a diferença entre o custo do aço carbono e o alumínio é absorvido em três anos.

Outro material que também tem um preço superior é o vidro. Mas, em alguns casos, essa diferença de preço é compensada. Esse é o caso da fabricante de conservas alimentícias Olé, que trocou as latas por vidro nas embalagens de milho e ervilha e dobrou seu market-share em apenas um ano. "Apesar de o vidro encarecer o produto final em 15%, dobramos a nossa participação no mercado graças à nova embalagem, que possibilita ao consumidor ver a qualidade dos vegetais", afirma Odilon Roberto Olivieri, gerente de marketing da Olé.

Companhia com forte atuação em criações na área de plásticos, a DuPont vem apostando suas fichas em novas embalagens para produtos de consumo acondicionados em latas. "Recentemente, idealizamos uma nova embalagem para atum, que está tendo uma ótima aceitação. Com o tempo, os consumidores percebem a comodidade como ocorreu com o óleo e as ceras líquidas que antes só eram encontradas em latas", lembra o gerente de vendas e desenvolvimento de polímeros industriais da companhia, Silvério Giesteira.

Para driblar essa concorrência, as siderúrgicas estão investindo fortemente em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento para aprimorar os tipos de aço e ampliar suas aplicações. "O aço é resistente e pode ser moldado de acordo com a necessidade do cliente, podendo se transformar em chapas para carros e navios, vergalhões para a construção civil, tubos para gasodutos, peças para bens de capital, entre outras diversas formas para atender várias cadeias produtivas", destacou Marco Pólo de Mello Neto, vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

De acordo com Catia Mac Cord, gerente executiva do Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA), entre 1993 e 2004, as usinas investiram US$ 14 bilhões para modernizar suas linhas de produção e atender melhor a construção civil, que consome 30% do aço produzido no Brasil.

Conhecido por ser um dos maiores adeptos das estruturas metálicas de aço em seus empreendimentos, o arquiteto Ruy Ohtake enumera as vantagens do material. "O tempo de obra com o uso de estruturas metálicas é em média 30% inferior ao pré-moldado de concreto, além disso, é mais adequado para prédios muito altos, com mais de 50 andares, por causa de sua leveza", explica Ohtake.

A troca do aço por outros materiais ainda enfrenta resistência por boa parte dos consumidores. A DuPont promoveu no ano passado um levantamento com uma gama de produtos fabricados com metal e que poderiam ser substituídos por plásticos. O resultado mostrou que apenas 4% das peças em metais foram substituídas por plástico. "As pessoas ainda acham que o plástico é um material com pouca resistência. Hoje, já estão sendo pesquisados até vergalhões à base de polímeros", disse Karen Guedes, gerente de produtos de polímeros de engenharia da companhia.