Título: Energias do Brasil avalia potencial eólico
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2007, Empresas, p. B10

O combate ao aquecimento global e a geração de energia a partir de fontes renováveis têm andado de mãos dadas nos últimos tempos. Com a proximidade da entrada em vigor do Protocolo de Kyoto em 2010, que obrigará os países signatários a reduzir a emissão de carbono na atmosfera, a procura por fontes limpas de energia ganhou relevância em boa parte das companhias de geração. E apesar de a matriz hídrica ainda ser a preferida de nove entre dez geradoras, a produção de megawatts (MW) a partir da força dos ventos começa a ganhar corpo no mundo.

"A matriz hídrica é excelente, mas a capacidade de usar essa fonte na Europa está perto do limite. Sendo assim, o continente caminhou para outras fontes limpas alternativas, como solar e eólica", conta António Martins da Costa, o presidente da Energias do Brasil, controlada pela portuguesa EDP.

A julgar pelo último passo dado pela EDP, a declaração de Martins da Costa não deixa dúvidas de que o grupo está disposto a investir alguns recursos nessa fonte tanto no país, como no mundo. "A Energias do Brasil tem interesse na energia eólica no país. Mas sabemos que o desenvolvimento dessa matriz por aqui é algo de longo prazo e não para os próximos dois ou três anos", afirma o executivo.

Segundo o último plano estratégico desenhado pela EDP para suas atividades no mundo, a sua filial no país teria em torno de US$ 1 bilhão para investir em todo tipo de energia no Brasil. E Martins da Costa é taxativo ao dizer que tem intenções de alocar algum recurso em eólicas.

A intenção da empresa portuguesa no Brasil reflete, na verdade, o último movimento do grupo. No fim de março deste ano, a EDP desembolsou US$ 2,9 bilhões para arrematar a americana Horizon Wind Energy junto ao Goldman Sachs, seu antigo controlador. E com os mais de 1,3 mil MW desse grupo dos Estados Unidos, a EDP subiu no ranking mundial de geradores de energia eólica e alcançou a quarta posição, com 3,8 mil MW.

Mas o desembarque nos Estados Unidos da EDP guarda ramificações mesmo no potencial desse mercado. Tanto é assim que estima-se uma das maiores taxas de crescimento em geração de energia eólica no país. Atualmente, a capacidade americana instalada é de 11,6 mil MW. No entanto, as previsões dão conta de que os Estados Unidos acrescentarão 16,5 mil MW entre este ano e 2010.

"Nos Estados Unidos, contudo, haverá algumas diferenças em relação à Europa. No mercado americano, por exemplo, a energia eólica terá preço de mercado e vai brigar com outras fontes. Mas haverá financiamento pela via fiscal no momento da montagem das operações", afirma o presidente da Energias do Brasil. Já na Europa, completa, as operadores desse tipo de matriz recebem algum subsídio e o consumidor paga um pouco menos.

No Brasil, explica Martins da Costa, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, o Proinfa, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia guarda algumas semelhanças com o modelo europeu.

O fato é que a aposta da EDP na geração eólica pode ser certeira. Isso, porque dados da consultoria Camargo-Schubert mostram que o mercado desse tipo de fonte tem crescido ano após ano no mundo.

Em 2005, informa a consultoria, a demanda subiu 12 mil MW e, no ano passado, cresceu 15,2 mil MW no mundo. Atualmente a capacidade global eólica instalada é de 74,2 mil MW, o que equivale a pouco mais de 5 usinas hidrelétricas de Itaipu, levando em consideração sua nova capacidade de 14 mil MW.

No entanto, apesar de a Alemanha manter a primeira posição no ranking mundial dos países produtores, com 20 mil MW instalados, a maior companhia em energia eólica não é alemã. É uma americana. A FPL lidera a lista, com uma capacidade de geração total de 5 mil MW. Este potencial a coloca a frente das espanholas Iberdrola (4,8 mil MW) e Acciona (4,2 mil MW).