Título: Crise reduz pressão do PMDB sobre nomeações
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2007, Política, p. A6

A decisão de nomear Márcio Zimmermann ministro de Minas e Energia só será tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois da viagem internacional que iniciou ontem à noite, à Inglaterra, Índia e Alemanha. No Planalto, a avaliação é de que este nome ainda precisa "decantar". Não significa que existam outros candidatos ao cargo, nem tampouco que Zimmermann seja um desconhecido do Executivo - afinal, ele é bastante próximo da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Está também fora de cogitação a indicação oficial de Nelson Hubner, que, até o momento, responde interinamente pela Pasta. A questão é, de fato, de timing político.

Se o governo tem pouca pressa em definir essa questão, o PMDB no Senado, teoricamente o principal interessado em uma célere nomeação, não pressiona com tanta ênfase. No momento, o grupo está mais preocupado em "salvar a pele" do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado pela revista Veja de ter suas contas pagas por um lobista de empreiteira. Renan e o senador José Sarney (PMDB-AP) seriam importantes fiadores do nome de Zimmermann. O primeiro está enrolado com as denúncias envolvendo a construtora Mendes Júnior e o segundo saiu chamuscado do afastamento de Silas Rondeau do MME, acusado de receber R$ 100 mil da construtora Gautama.

Os demais senadores da bancada aproveitam a fragilidade dos dois interlocutores preferenciais do presidente para colocar as cartas na mesa.

Um importante pemedebista afirma que os senadores não foram consultados sobre a indicação de Zimmerman. "A vaga não é nossa? Então, vamos discutir a questão com a bancada", cobrou um senador. Ontem, o líder do partido na Casa, senador Valdir Raupp (RO), foi ao ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, agendar um encontro da bancada de senadores pemedebistas com Lula. O encontro deve acontecer nos próximos 15 dias. Não está descartada que a nomeação de Zimmermann fique em compasso de espera até lá.

O presidente também vai esperar o retorno do giro internacional para deflagrar a nomeação dos cargos de segundo escalão. Conforme já havia noticiado o Valor, Lula não vai mexer nas presidências dos principais bancos estatais, incluindo Basa e BNB. No segundo escalão, a tendência é respeitar os critérios técnicos, privilegiando funcionários de carreira. Uma ou outra indicação política poderá vir a ser confirmada - o ex-senador Maguito Vilela (PMDB-GO) pleiteia assumir a vice-presidência de Agronegócios do Banco do Brasil. Mas isso seria uma exceção, não uma regra.

O presidente Lula já tem em mãos os subsídios para chamar os partidos e negociar. O mapeamento feito pelos ministros da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, do Planejamento, Paulo Bernardo, e da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, já foi entregue ao presidente e ele está apto a nomear os indicados. Pessoas próximas do presidente reconhecem que o enigma encontra-se no fato de ele não haver delegado essa função a terceiros, como fez em 2002, transferindo à época a tarefa de montagem do governo para o ex-ministro José Dirceu. Mas acham que essa centralização vai ser arrefecida quando houver a definição dos cargos federais nos Estados. Alguns deles, situados em Estados mais importantes da federação, já estariam até definidos pelas lideranças dos partidos da coalizão.

Um motivo que pode emperrar esse processo é que Lula parece pouco preocupado em concentrar-se apenas em questões políticas. Com a sucessão de planos, PACs e programas em diversas áreas do governo, o presidente tem tentado dar um foco administrativo a este início de segundo mandato. Segundo um petista que conhece bem Lula, a avaliação do presidente é de que as ações de governo são melhor percebidas pela população do que os debates político-partidários.