Título: Abertura vai favorecer segmento de grande risco
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2007, Finanças, p. C3

Os segmentos de seguros de vida, patrimonial e grandes riscos devem ser os mais impulsionados com a abertura do mercado de resseguros. Na avaliação do secretário-adjunto de política econômica do ministério da Fazenda, Otávio Damaso, esses segmentos devem crescer sua participação no volume total de prêmios do setor de seguros, não apenas influenciados pela quebra do monopólio de resseguros, mas também da estabilidade da economia e dos projetos previstos para o setor de infra-estrutura no país. "Esse segmento tende a crescer muito no país, pela abertura do mercado de resseguros, que vai inserir o Brasil nas plataformas mundiais das empresas e pelos incentivos aos investimentos e projetos de infra-estrutura", disse Damaso, que também faz parte do conselho de administração do IRB Brasil Re.

Segundo Damaso, nos países mais desenvolvidos a participação do seguro de vida no total de prêmios é maior do que no Brasil e que isso tende a se reverter a medida que o setor de seguros for crescendo e se desenvolvendo. "No Brasil, a participação do setor de automóveis ainda é muito significativa, mas o grande crescimento não vai ser por esse lado e o ramo tende a cair como percentual do total, porque vida, grandes riscos e também seguros ligados ao crédito e ao setor de habitação tendem a ganhar espaço", avalia ele, que participou ontem do seminário "Desafios e Oportunidades para a Indústria de Seguros no Brasil", promovido pela Standard & Poor's.

Damaso lembrou que o projeto de lei que abriu o mercado de resseguros no país restringiu as operações de acumulação no segmento de previdência e outras no ramo de vida ao mercado local. "De fato, o Brasil ainda não começou a trabalhar com o resseguro no ramo vida e principalmente no ramo previdência", disse Damaso. "Os produtos que estão em fase de acumulação vão começar a abrir oportunidades para o resseguro quando entrarem no estágio de recebimento de benefícios", disse Damaso.

Durante o debate, porém, alguns especialistas de mercado avaliaram que a abertura do setor de resseguros, por representar uma mudança de paradigma no mercado brasileiro, pode promover um aumento, e não uma queda dos preços, no mercado brasileiro. Para Ronald Affat, diretor da IcatuHartford, como os estrangeiros não conhecem bem o funcionamento do mercado de resseguro brasileiro e, ao mesmo tempo, as empresas brasileiras não estão familiarizadas com essas operações, por conta do monopólio que existia, pode ocorrer uma dificuldade de precificação num primeiro momento. "A tendência é que depois isso se ajuste", diz ele.

O diretor da Bradesco Seguros, Samuel Monteiro dos Santos Junior, concorda que essa alta pode acontecer num primeiro momento. Na avaliação dele, porém, a indústria brasileira ainda tem muito espaço para se desenvolver. "Não por acaso, o Brasil, a China e a Índia são os países onde há um descasamento entre o PIB e o setor de seguros", diz Samuel. "Enquanto o nosso PIB é o décimo-segundo do ranking, o setor de seguros é o vigésimo. Na China é parecido, eles são a quarta economia e em seguros é a décima-sexta", observa ele. Para o executivo, ele, o Brasil tem uma outra característica interessante que deve atrair seguradoras, que é o fato de não ser uma região propensa a grandes catástrofes naturais.

Segundo o economista Luiz Roberto Cunha, do Instituto de gestão de Riscos Financeiros e Atuariais da PUC, a questão da desigualdade de renda tem um impacto forte no setor de seguros e pode ser um dos responsáveis pelo descasamento citado entre o tamanho do PIB e do setor de seguros na comparação com outros países.