Título: Montadoras se preparam para vender um mês a mais em 2007
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2007, Empresas, p. B1

Os resultados das vendas no mercado interno até o final de maio dão aos executivos da indústria automobilística a certeza de que a produção de veículos este ano chegará muito próxima de 2,8 milhões de unidades, o que equivale dizer que as montadoras terminarão 2007 com praticamente um mês de vendas a mais do que em 2006.

Ao passar ontem os olhos pela planilha de encomendas para os próximos meses, o diretor da TRW, um dos maiores fabricantes de autopeças do país, Wilson Rocha, disse não duvidar que o total chegue a 2,850 milhões de veículos. Em 2006, que já fechou com recorde, foram produzidos 2,63 milhões. Segundo os pedidos que já chegaram à TRW, as linhas de montagem seguirão ritmo constante de 12 mil veículos por dia no mínimo até setembro.

A somatória da queda dos juros com a ampliação do prazo do financiamento trouxe ainda outro fator: o brasileiro começou a gastar mais com automóveis mais caros. Os números de licenciamentos dos automóveis e comerciais leves registrados no Renavam mostram que desta vez não é o carro popular que está puxando o crescimento.

Os dados de licenciamentos registrados de 1º de janeiro ao dia 30 de maio mostram que o segmento do chamado popular - formado pelos automóveis com motor 1.0 - ainda representa mais da metade do mercado. No entanto, as vendas desses modelos cresceram 22,06% enquanto o mercado total aumentou 23,44%.

Entre as vedetes da ampliação da expansão do mercado estão os utilitários esportivos, que registraram aumento de vendas de 67,22% e carros que custam pelo menos R$ 60 mil, como os sedãs grandes. Essa categoria experimentou uma elevação de 33,09%.

"Com o aumento das facilidades de financiamento, o brasileiro está podendo e querendo gastar mais dinheiro na troca do carro", afirma o presidente da Citroën, Sérgio Habib. A Citroën se prepara para lançar em setembro uma versão sedã do modelo C4, produzido na Argentina, que vai disputar na faixa dos carros que custam entre R$ 70 mil e R$ 90 mil.

Mas a maior estrela do mercado são os sedãs pequenos, um grupo do qual participam modelos como o Prisma, da General Motors; Siena, da Fiat; e o Polo sedã, da Volkswagen. As vendas acumuladas desse segmento do início do ano até o penúltimo dia de maio somaram 60,5 mil unidades, ante 29,7 mil de igual período de 2006. Ou seja, um avanço de 103,8%.

É nesse mercado que a Renault entrará daqui a duas semanas com o lançamento do Logan. Esse tipo de carro está atraindo aquele consumidor que no passado conseguiu comprar um popular e hoje se sente mais seguro para gastar um pouco mais para ter um carro para o que ele mais precisa: carregar a família e as malas.

Habib faz as contas: quem há dois anos, quando a taxa de juros dos carros estava em 2,3% ao mês, comprava um veículo de R$ 40 mil em 24 meses com 30% de entrada, assumia uma prestação de R$ 1.531. Hoje, com taxas médias de juros de 1,9% ao mês, é possível levar um automóvel de R$ 65 mil em 48 meses de financiamento com parcelas de R$ 1.450. Daí a migração para os mais caros.

Tudo isso significa que a receita das montadoras também está crescendo. A indústria automobilística, que sempre reclamou que não ganhava dinheiro com o carro popular, está agora faturando mais com modelos maiores ou com os pequenos com acabamento mais sofisticado.

Somente o segmento de carros de passeio e de comerciais leves somou a venda de 835,9 mil unidades de janeiro a 30 de maio. Foram 158,7 mil unidades mais do que em igual período do ano passado, quando esse mercado somou 677,2 mil unidades. Incluindo os veículos pesados (caminhões e ônibus), o licenciamento de janeiro a 30 de maio somou 869,8 mil veículos em todo o país, o que representou uma expansão de 24% na comparação com igual período do ano passado.

O presidente da General Motors, Ray Young, começou o ano com dois prognósticos para o mercado brasileiro este ano. A pessimista era 1,80 milhão de veículos e a otimista, 1,95 milhão. Agora ele trabalha com a previsão de 2,25 milhões de unidades. As vendas do ano passado somaram 1,930 milhão, 10 mil menos que o recorde, de 1,94 milhão, alcançado em 1997. Young já trabalha com a previsão de uma produção total de 2,8 milhões de veículos. O presidente da Fiat, Cledorvino Belini, acha que o total chegará a 2,810 milhões.

A Volkswagen imaginava vender este ano no Brasil 419 mil veículos. Mas, segundo informou recentemente o presidente da empresa, Thomas Schmall, a previsão agora é chegar a volumes entre 480 mil a até 523 mil unidades.

Para não perder a oportunidade de vender mais no mercado interno - o que serve, inclusive, para compensar as perdas com exportação - , a indústria automobilística começou a programar toda a espécie de expansão. A GM faz ajustes na linha de Gravataí (RS) para tentar contornar uma fila de espera do modelo Prisma, que oscila entre 30 e 60 dias, dependendo da região.

Há poucos dias, a Volkswagen não apenas cancelou o programa de cortes de pessoal programado para este ano na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) como ainda chamou os representantes dos trabalhadores para negociar horas extras nos fins-de-semana. O otimismo da montadora não se limita a este ano. O acordo de trabalho extraordinário se estende até 2008. Na fábrica de Taubaté, onde é produzida a linha Gol, foram até contratados trabalhadores temporários para completar o terceiro turno.

A Fiat decidiu reativar a linha de montagem da Argentina, desligada desde 2001. Já em janeiro, as instalações de Córdoba voltarão a produzir o Siena. Isso garantirá um volume de produção anual adicional de 50 mil veículos por ano, o que ajudará a desafogar a fábrica de Betim, em Minas Gerais, que já ultrapassou a sua capacidade.