Título: Gol diz que trará aviões de 'última geração' para Varig
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2007, Empresas, p. B2

A Gol Linhas Aéreas pretende abrir consultas com a Boeing e a Airbus para renovar a frota de longo curso da Varig, comprada em março pela família Constantino. O objetivo é fazer uma concorrência entre as duas fornecedoras entre o fim de 2007 e o início de 2008 para adquirir aeronaves de última geração. Por enquanto, a Varig está sendo reaparelhada com aviões 767-300 da Boeing, mas dois novos modelos estão na mira da Gol: o 787-Dreamliner e o A350 (Airbus).

A informação foi dada ao Valor pelo presidente da empresa, Constantino de Oliveira Junior, que falou sobre os planos de renovação da frota da VRG Linhas Aéreas. "Nós vamos estabelecer o 767 como base da frota em um primeiro momento", disse Constantino, lembrando que sete aeronaves desse modelo vão chegar e somar-se às duas já disponíveis, para retomar os vôos ao exterior.

"Em seguida pretendemos, tão logo seja possível, estabelecer uma concorrência entre os principais fabricantes para determinar qual será o modelo adotado para o longo curso. Provavelmente partiremos para um avião de próxima geração", acrescentou o empresário, comentando que sua intenção é iniciar o processo de consultas ainda neste ano, após superar "todos esses tumultos e dores de cabeça que estamos tendo neste momento".

Apesar de ostentar a posição de empresa aérea com o maior número de encomendas na América Latina de jatos da Boeing, Constantino deixou claro que a Airbus também será procurada para a aquisição de aviões de longo curso. Numa área concentrada em dois fornecedores, é impossível saber a real disposição da Gol de romper sua tradicional relação com a Boeing para fazer encomendas à Airbus. Mas as futuras consultas, mesmo que sejam apenas uma espécie de blefe para negociar preços melhores com a fabricante americana, são estratégicas. No ano passado, a TAM, maior cliente da Airbus na América Latina, surpreendeu ao anunciar um contrato firme de compra de quatro jatos Boeing 777-300 ER, mais quatro opções.

Para a frota de aeronaves menores da Varig, de curto e médio cursos, a tendência é unificá-la com os modelos 737-800 da Boeing, usados atualmente pela Gol. Em setembro chegarão cinco aviões para aumentar a frota disponível na VRG. Constantino quer estabelecer uma concorrência efetiva entre Varig e Gol, que terão gestões "independentes".

Exemplo prático da competição que se estabelecerá entre as duas, segundo o empresário, são os vôos para Buenos Aires. A partir dos próximos dias, a Varig passará a fazer quatro vôos diários com destino à capital argentina, partindo do Rio e de São Paulo. Enfrentará, nessa rota, a concorrência direta da Gol - dona de várias freqüências diárias.

Segundo Constantino, o segundo vôo diário da Varig para Frankfurt será iniciado neste mês - o primeiro é feito a partir de São Paulo e a nova freqüência terá o Galeão como ponto de partida. Depois serão retomados os vôos - por ordem - para Cidade do México, Madri, Roma (com escala em Paris) e Londres. Isso, evidentemente, se for preservada a liminar concedida pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, da 1ª Vara Empresarial do Rio. A liminar derrubaria a decisão da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que fixou o dia 18 de junho como prazo final para a retomada das rotas abandonadas pela Varig.

Pela liminar, a Gol terá até meados de novembro para reiniciar as operações internacionais. Os vôos serão feitos com nove aviões 767-300 - sete dos quais começam a chegar nas próximas semanas (dois fazem a rota São Paulo-Frankfurt). Essas aeronaves estão sendo usadas agora porque são as únicas disponíveis no mercado. "O prazo até novembro é suficiente para iniciarmos os vôos de longo curso."

O empresário também defendeu a adoção do limite de 49% para a participação de capital estrangeiro nas discussões para uma nova Lei Geral de Aviação Civil. "O [limite de 49%] permite uma capitalização das companhias sem perda de controle. Por que a questão do controle? Porque o avião é um bem móvel. Imagine se uma companhia americana vem para cá, coloca 40 ou 60 aviões voando no Brasil, de repente o mercado americano aquece e o brasileiro desaquece. Se ela levar os aviões para lá, a população fica desassistida. Portanto, por questões estratégicas e de soberania, é importante que o controle seja de brasileiros."