Título: Cana faz preço da terra superar nível dos "anos da soja" no país
Autor: Bouças, Cibelle e Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2007, Agronegócios, p. B14

O crescimento da procura por áreas para o plantio de cana, acelerado desde o fim de 2006 sobretudo nas regiões Sudeste e Nordeste, confirmou as expectativas e tirou os preços médios das terras agropecuárias do país da estagnação. Com o apetite expansionista dos usineiros, os preços atuais já superam o patamar médio de 2004, último ano do mais recente ciclo de valorização, puxado pelo avanço da soja principalmente no Centro-Oeste.

Levantamento do Instituto FNP mostra que, nos últimos 12 meses até o bimestre março-abril deste ano, as terras destinadas a plantios ou criações subiram, em média, 11,64% no Brasil, com acentuada valorização no quadrimestre final do intervalo. Descontada a inflação - o instituto trabalha com 4,77% para o período -, a alta média cai para 7%, ainda considerado um percentual firme. Já nos últimos 36 meses, os cálculos apontam para um ganho absoluto de 2,03%, o que resulta em queda de 4% uma vez descontada a inflação.

"De uma maneira geral, observamos quedas na maior parte das regiões do país nos últimos dois anos. Mas São Paulo, graças à cana e à boa infra-estrutura que tem, registrou valorização média. Ela se acentuou nos últimos meses, mas acredito que nas tradicionais regiões canavieiras paulista, como Ribeirão Preto, os preços tenham alcançado um limite. É difícil prever o futuro desse mercado, mas há espaço para aumentos em regiões menos tradicionais do próprio Estado, onde a cana está chegando agora", afirma Jacqueline Bierhals, analista do Instituto FNP.

Nos últimos 12 meses, mostra o estudo, houve valorizações absolutas médias de terras em todos os Estados do país - mas seis deles, descontada a inflação, não tiveram ganhos reais -, com destaque para Rio de Janeiro (26%, em média, graças à cana), Espírito Santo (25,3%, em razão da cafeicultura) e São Paulo (16,5%). E os negócios, segundo Jacqueline, estão saindo. "Normalmente a expansão da cana é equilibrada. Parte das terras para plantio é comprada, parte é arrendada e parte fica com os fornecedores das usinas. Por isso também é difícil prever os limites das valorizações".

Em São Paulo, onde a cana já ocupa nesta safra 3,452 milhões de hectares (52% do plantio brasileiro), a expansão da cultura tem se dado principalmente rumo à região oeste do Estado, com arrendamento e aquisição de terras, e mesmo por meio de contratação de produção, observa Carlos Moraes Toledo, presidente da União dos Produtores de Bionergia (Udop), que reúne 55 usinas sucroalcooleiras do oeste paulista. "Hoje, no oeste paulista, a cana ocupa apenas 15% da área e é uma região tradicionalmente voltada à pecuária. A expansão das lavouras levará mais alguns anos nessa região", afirma.

Um levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo confirma tal avaliação. O estudo, feito com base no preço absoluto pago pelas terras paulistas ano a ano, revela que o preço de terras para pastagem tiveram aumentos mais significativos do que as chamadas "terras de culturas de primeira" e "de segunda", utilizadas tradicionalmente para o plantio de grãos e culturas perenes.

Entre 2001 e 2006, o preço médio da terra para pastagem subiu 18,23% por ano em todo no Estado, ante aumento de 17,2% a 17,3% de outras áreas. Em microrregiões do oeste do Estado, o aumento nos preços das terras de pastagens foram mais significativos, com valorização média de 20,19% em Araçatuba, 22,98% em Bauru, 17,44% em Barretos e 26,89% em Ribeirão Preto. Em todas as microrregiões, as terras de primeira e segunda tiveram incrementos menores.

Felipe Pires de Camargo, engenheiro agrônomo e pesquisador do IEA, observa que o aumento de preços nos últimos três anos deveu-se à expansão da cana, mas em anos anteriores também deveu-se ao desenvolvimento de outras culturas altamente tecnificadas, como citros e café. "Mesmo onde não há cana, mas o clima e o solo são favoráveis à adoção da cultura, as terras se valorizaram, apenas pelo potencial de venda", observa. De acordo com o estudo, o valor médio da terra no Estado quase triplicou entre 1995 e 2006, passando de uma média de R$ 3.899,54 por hectare para R$ 10.128,12, no caso de terras de primeira qualidade. O incremento mais expressivo se deu nos últimos cinco anos, com um aumento médio de 17,22% ao ano.