Título: Mercado junino
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2007, EU & Investimentos, p. D1

Se maio foi decisivo para a bolsa e para o câmbio - com o Ibovespa superando os 50 mil pontos e o dólar se desmilingüindo para menos de R$ 2,00 -, junho será para as taxas de juros. Na próxima semana, dias 5 e 6, o Comitê de Política Monetária (Copom) resolverá a questão que atormenta o mercado desde a última reunião, que terminou sem consenso entre os participantes do comitê: o juro cairá 0,25 ou 0,50 ponto percentual?

Junho começa também com uma expectativa um pouco sombria para a bolsa, de realização de lucros, mas poucos se atrevem a afirmar categoricamente que isso realmente irá acontecer. Após o Índice Bovespa bater recorde atrás de recorde, acumulando alta de 6,77 % no mês, 17,53% no ano e impressionantes 43,08% em 12 meses, alguns especialistas acreditam que o momento pode ser de ajustes. O consenso, porém, continua sendo de mercado para cima no médio prazo, com as projeções para o Ibovespa no fim do ano variando entre 56 mil e 60 mil pontos.

Uma correção neste momento seria superfavorável, avalia Rogerio Betti, sócio da Beta Advisors, escritório de aconselhamento financeiro, pois seria uma oportunidade de compra. "Mas uma queda não significa que a bolsa deixou de ser atrativa, já que a tendência para o longo prazo ainda é de alta", diz. Para quem pensa em ingressar na bolsa, o conselho é comprar aos poucos.

Boa parte da alta verificada em maio ocorreu com a melhora na nota de risco dada pelas agências de rating, que colocaram o Brasil a um passo do "investiment grade" (grau de investimento), que permite que fundos de pensão americanos apliquem no país. Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e sócio da Mauá Investimentos, o mercado já antecipou nos preços dos papéis aproximadamente 50% dos benefícios do grau de investimento. "Mas isso não quer dizer que as ações das empresas brasileiras estão caras", diz. "Elas estão com preços mais próximos de suas pares internacionais."

O número de pessoas físicas que investe em bolsa vem aumentando, mas ainda é pequeno, e há muito espaço para crescer, lembra Julio Martins, diretor de investimentos da Prosper Gestão. Com mais investidores indo para a bolsa, é razoável que, no médio e longo prazos, a expectativa seja de alta na renda variável, avalia. Segundo ele, apenas 10% da poupança da pessoa física está hoje em bolsa.

No fim de maio, um alerta feito por Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sobre a valorização excessiva da bolsa chinesa trouxe volatilidade aos mercados. O aviso foi seguido por um aumento do imposto sobre o investimento em ações pelo governo chinês, ratificando a preocupação com o superaquecimento do mercado. Para Fabio Colombo, administrador de investimento, o alerta de Alan Greenspan e de outros importantes economistas, de que há uma "bolha" nos preços dos ativos ao redor do mundo, pode desencadear uma correção de preços no curto e médio prazos.

Com relação aos juros, a maioria dos analistas espera um corte de 0,5 ponto percentual, conforme pesquisa feita pelo Valor. Mas, segundo Figueiredo, da Mauá, apesar de boa parte do mercado acreditar nesse percentual, isso ainda não está embutido na curva dos juros do mercado futuro. Ou seja, há espaço para ganho caso o corte se confirme.

A fé no conservadorismo do BC está presente nas projeções da Prosper Gestão, que estima corte de 0,25 ponto percentual. "De qualquer forma, o efeito do corte é momentâneo e pontual, pois todo mundo já assimilou que o juro ficará em um dígito no médio prazo", diz Martins. Nesse cenário, as NTN-Bs, títulos atrelados ao IPCA, continuam interessantes para quem tem visão de longo prazo, com juros de 6% ao ano. "É baixo em relação ao que o papel já pagou, mas mesmo assim é um retorno bom", diz Betti, da Beta.

Para o dólar, mesmo depois da perda de 5,50% em maio, 9,92% no ano e 17,17% em 12 meses, a tendência continua de queda ou, na melhor das hipóteses, manutenção, alertam analistas. A situação de liquidez internacional ainda se mantém favorável à entrada de capitais e as exportações seguem beneficiadas pelo crescimento mundial. Há ainda o processo estrutural de enfraquecimento do dólar, o que torna a sua queda um movimento mundial, e não somente brasileiro. As projeções para o fim do ano já estão na casa de R$ 1,80, mas o trajeto até esse valor deve ser pontuado por momentos de alta por conta de turbulências externa. Mesmo assim, sua variação seria bem mais restrita que a da bolsa.