Título: Alta tecnologia perde espaço na produção industrial do país
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Brasil, p. A5

A participação das atividades de alta tecnologia no conjunto do valor da transformação industrial (VTI) brasileira mostra tendência de queda na primeira metade desta década em proveito dos setores menos intensivos em tecnologia.

Uma tabulação feita pelo IBGE a pedido do Valor, a partir dos dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), mostra que, de 2001 para 2005, caiu a participação dos setores de alta, média-alta e baixa-tecnologia e cresceu a dos setores de média-baixa tecnologia, impulsionada pela elevada demanda por commodities no mercado internacional, como aço, e pelo aumento da produção de petróleo e derivados.

Como o IBGE não tem uma classificação de produtos com base na intensidade tecnológica, foi usado o formato utilizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo que reúne os países mais desenvolvidos do mundo. A metodologia agrupa os setores em alta, média-alta, média-baixa e baixa intensidade tecnológica. O setor de reciclagem foi excluído por ter participação residual. "O que puxa o crescimento são as indústrias exportadoras e extrativas. Mesmo em bens de consumo, como veículos, o que comandou o crescimento foram as exportações", analisa Sílvio Sales, coordenador de indústria do IBGE.

De acordo com os números, em 2001 os setores de alta tecnologia respondiam por 6,7% do valor da transformação industrial brasileira, participação que caiu para 4,1% em 2005. Já os setores alinhados como de média-alta tecnologia reduziram a participação de 27,4% para 26,2%. Na soma, média e alta tecnologia passaram de 34,1%, em 2001, para 30,5% em 2005.

Na parte de baixo da tabela, os setores de média-baixa tecnologia - agrupamento que reúne metalurgia básica (ferro e aço) e refino de petróleo - ganhou quase cinco pontos percentuais de participação, passando de 34,8% para 39,2% no período. Os segmentos de baixa tecnologia mostraram ligeira queda, de 31,1% para 30,3%, em que pese as indústrias extrativas terem elevado a fatia de 2,9% para 4,3%.

"Concordo que a primeira noção (dos números) é negativa. Mas como o valor da transformação inclui quantidade e preço, o barateamento dos bens de alta intensidade (eletrônicos) e a alta de preços das commodities podem ter participação importante nos resultados", pondera Estêvão Kopschitz, da equipe da análise de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Sales, do IBGE, aponta o aumento da participação de componentes importados nos bens mais sofisticados produzidos no Brasil como outro provável fator da queda de participação nos setores de alta tecnologia.

A tabela do IBGE agrega três setores entre os de alta intensidade tecnológica. Todos perderam presença, a começar pela "fabricação de outros equipamentos de transporte", leia-se, aviões, cuja participação oscila ao longo dos cinco anos, mas sempre com tendência de baixa, passando de 2% em 2001 para 1,6% em 2005.

Mais claras são as curvas da produção de máquinas para escritório e de equipamentos de informática, cuja fatia, já reduzida, cai ainda mais, de 1,3% para 0,5%. A fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicação perde 1,3 ponto, passando de 3,3% para 2%.

Entre os setores considerados de média-alta intensidade tecnológica, o destaque positivo é a fabricação e montagem de veículos automotores, cuja fatia no valor da transformação passa de 6,5% para 7,9%. A fabricação de produtos químicos, que engloba um sub-setor incluído na política industrial do governo (fármacos), caiu de 11,6% para 10,1%. O setor de máquinas e equipamentos, outro da política industrial implementada a partir de março de 2004, caiu de 5,9% para 5,2%.

No agrupamento de média- baixa intensidade tecnológica, os setores de metalurgia básica e fabricação de coque, refino de petróleo e elaboração de combustíveis crescem juntos 5,7 pontos percentuais. O primeiro passa de 6,2% para 8,1% e o segundo, de 12,5% para 16,3% do valor de transformação da indústria.

Os números, segundo a análise de Kopschitz, do Ipea, e de Sales, do IBGE, refletem claramente o crescimento da quantidade produzida e dos preços da produção dos dois setores no mercado internacional. O economista do Ipea ressalta que é perfeitamente possível crescer produzindo com eficiência bens considerados de baixo valor agregado.

No bloco de produtos de baixa intensidade tecnológica, já é possível vislumbrar algum efeito da valorização cambial dos últimos anos sobre setores intensivos em mão-de-obra. A fabricação de produtos têxteis cai de 2,5% para 2%. A confecção de artigos de vestuário passa de 1,7% para 1,4% do total. A indústria coureiro-calçadista encolhe de 2,1% para 1,6%. O setor de alimentos e bebidas fica estável em 16,1% do valor da transformação da indústria brasileira.