Título: Lula volta a defender Congresso contra críticas de Chávez
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Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Brasil, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu ontem, pela segunda vez, em defesa do Congresso brasileiro contra críticas levantadas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que, na sexta-feira, havia acusado o Congresso de repetir "como papagaio" o Departamento de Estado americano.

Segundo o presidente venezuelano explicou ontem, em Caracas, seu ataque se deveu a uma nota "grosseira" dos congressistas do Brasil, em que lhe pediam para reconsiderar a decisão de não renovar a concessão da rede televisiva RCTV, de oposição ao governo. "O Congresso não foi grosseiro, editou uma nota que pede compreensão, apenas", disse o presidente Lula em resposta à afirmação de seu colega da Venezuela.

Na comitiva brasileira, em conversas reservadas, o ataque de Hugo Chávez ao Senado brasileiro foi atribuído à personalidade impulsiva do mandatário venezuelano e suas declarações de sábado, a uma tentativa mal feita de explicar-se e evitar confronto com Lula.

O primeiro ataque de Chávez foi respondido por Lula severamente, mas em linguagem diplomática: o embaixador da Venezuela no Brasil foi chamado a dar explicações em Brasília, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, depois de divulgar uma nota de repúdio às acusações de Chávez, declarou, em Londres, de onde partiu para se integrar à comitiva presidencial na Índia, que esperava o fim dos "arroubos retóricos" e a volta da normalidade na relação com os dois países.

"O que está em jogo nas relações políticas, comerciais e econômicas entre Brasil e Venezuela é muito importante, a ponto de justificar investirmos no apaziguamento", argumentou, ontem, ao chegar em Nova Déli, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia. "Preferimos que esse incidente fique por aqui", afirmou.

Embora o Brasil seja visto, "às vezes" como cuidadoso "demais" na reação a atritos com os governos vizinhos, "nunca é demais", argumentou o assessor de Lula.

Segundo outro integrante da comitiva presidencial, havia apreensão sobre qual seria a reação do presidente venezuelano à resposta dada pelo governo brasileiro às suas declarações sobre o Congresso. O governo quer evitar uma ruptura nas relações com Hugo Chávez, mas pretende dar uma resposta a novas provocações.

O tom das novas críticas ao Congresso, por serem uma tentativa de explicação por parte de Hugo Chávez, foi considerado menos agressivo que o anterior, que punha em questão a independência do poder Legislativo brasileiro.

Celso Amorim, ainda em Londres, fez questão de dizer que, independentemente da relação do Executivo com os congressistas, considerava inadmissível que se pusesse em questão a independência dos parlamentares em relação a interesses externos.

Marco Aurélio Garcia defendeu Hugo Chávez das acusações de antidemocrático e de censura à imprensa, lembrando, em referência indireta à RCTV, que chegou a ver, durante a transmissão de novelas, na Venezuela, letreiros ao pé das imagens, convocando protestos e lançando insultos contra o presidente Chávez. "Não é verdade que não há liberdade de imprensa na Venezuela", disse Marco Aurélio Garcia, que afirmou não acreditar em alguma ação da Organização dos Estados Americanos (OEA) contra a decisão do presidente venezuelano. "Ele não fez nada ilegal", alegou.

Garcia criticou indiretamente Hugo Chávez, porém, ao comentar as críticas feitas por ele e pelo presidente de Cuba, Fidel Castro, contra o programa de desenvolvimento dos biocombustíveis defendido pelo Brasil. Para eles, a opção pelo etanol pode aumentar a fome no mundo. "O presidente Chávez acabou se desdizendo, ao contratar a compra de US$ 300 milhões de etanol do Brasil", disse Garcia. (SL)