Título: Diversidade Made in Brazil
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, EU & Investimentos, p. D1

A diversidade e a ênfase na expansão da atividade econômica local são a fotografia da Carteira Valor de junho. Depois de o Índice Bovespa (Ibovespa) acumular ganhos de 17,53% no ano, as escolhas das corretoras fogem de qualquer obviedade, com as indicações para "blue chips" como Petrobras e Vale do Rio Doce empatando, por exemplo, com Lojas Americanas e Energias do Brasil. Entre os 38 papéis citados pelos analistas, há nomes recém chegados à Bovespa, como BR Malls, que estreou no Novo Mercado no início de abril, além de Gafisa, Abyara e Lopes Brasil, que ingressaram no pregão ao longo do ano passado.

Em maio, a seleção das dez mais feita pelas corretoras participantes rendeu, na média, 8,64%, acima dos 6,77% do Ibovespa. No ano, acumula 23,86%. Em 12 meses, os ganhos são bem mais relevantes, atingindo 61,51%, em comparação aos 43,08% do índice. Para junho, a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) aperte o passo na redução do juro básico da economia - passando de um corte de 0,25 ponto percentual para uma dose de 0,50 ponto percentual - estimulou escolhas cirúrgicas em setores que podem se beneficiar dessa aceleração.

Sob tal perspectiva, a Itaú Corretora incluiu as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da AmBev e da Gol, além das ordinárias (ON, com voto) da Gafisa. "A queda dos juros barateia o custo dos empréstimos de longo prazo e a Gafisa é a empresa melhor posicionada entre as incorporadoras", diz o estrategista de renda variável para pessoa física, Fábio de Araújo. "E é uma consolidadora no seu segmento e, num segundo momento, vai investir nos apartamentos de um e dois dormitórios." Com o dólar em baixa, a Gol também aparece como opção oportuna num momento em que se espera vendas mais aquecidas de passagens aéreas pela proximidade das férias.

A recuperação da renda e a maior oferta de crédito justificam o investimento numa ação como Lojas Americanas, como uma alternativa de menor risco do que uma Vale do Rio Doce PN - que já subiu 40,3% neste ano -, argumenta o chefe de análise da Link Corretora, Adriano Blanaru. "A companhia está pronta para capturar a melhora da conjuntura e do consumo doméstico, tem a B2W (a união da Americanas.com com o Submarino) debaixo dela e ainda vai aumentar a área de vendas com a compra da Blockbuster."

Nas indicações para junho, a corretora do Banco Real trocou Petrobras PN por Perdigão ON, por entender que a recuperação dos preços da carne no mercado externo e o aumento da demanda local representam uma boa combinação para a fabricante de alimentos. "E a compra da Plusfood adicionou outras ramificações na Europa, incorporando uma nova carteira de clientes e a Perdigão pode compor um mix de produtos com aqueles já distribuídos pela processadora de carnes holandesa nos países da região", diz o analista Pedro Galdi.

Com a clara percepção de que o crescimento econômico vai requerer investimentos mais vultosos no setor elétrico, a Concórdia Corretora compôs o seu portfólio com AES Tietê PN e Tractebel ON. "O governo está interessado nos leilões de energia e já sinalizou que o preço será mais elevado para não frear investimentos", diz o chefe de análise, Eduardo Kondo. "Além disso, são duas empresas rentáveis, com boa geração de caixa, conhecidas como boas pagadoras de dividendos." No ano passado, o "dividend yield" (o retorno em dividendos) da Tractebel foi de 8,5% e neste ano já acumula 3%. A AES garantiu 12% em 2006 e em 2007 outros 2,3%. CCR ON foi outra escolha, tendo em vista a nova rodada de concessões estaduais e a incursão da empresa no mercado internacional.

A queda do dólar para baixo da fronteira psicológica dos R$ 2,00 não inibiu indicações de exportadoras, caso das ações PNB da Aracruz e das ON da Embraer, pela Link. Segundo Blanaru, tratam-se de escolhas mais defensivas, aproveitando-se do aumento da demanda pela celulose de fibra curta, especialidade da Aracruz, e do bom momento vivido pelo mercado de aviação.