Título: Diretor da PF sem padrinho
Autor: Rizzo, Alana; Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 30/12/2010, Política, p. 2

Anunciado ontem como número um da instituição, Leandro Daiello era o único dos cinco candidatos entrevistados que não contava com lobby de caciques

Ao nomear o superintendente de São Paulo, Leandro Daiello Coimbra, para a diretoria-geral da Polícia Federal, o futuro ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, optou por não politizar a instituição e evitou atender ao pedido de alguns caciques. As pressões tornaram o processo de escolha lento e desgastante e geraram um atraso no anúncio. Tudo em busca de evitar a criação de ¿arestas¿.

Cardozo entrevistou cinco candidatos. Optou pelo mais novo e sem padrinho político, em harmonia com os interesses da presidente eleita, Dilma Rousseff. Coimbra tem 44 anos, ¿uma criança¿, segundo o futuro ministro, e tem origem na coordenação de combate a crimes fazendários. Tentaram influir na seleção o atual dirigente da PF, Luiz Fernando Corrêa, que oficializou sua aposentadoria; o ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; e o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.

No governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Polícia Federal viveu altos e baixos. O ex-diretor-geral Paulo Lacerda, que comandou a instituição de 2003 a 2007, conseguiu pacificar os ânimos depois de um momento turbulento: no governo Fernando Henrique Cardoso, ela teve sete dirigentes. Um deles (João Batista Campelo) ficou três dias no cargo. A organização voltou a ser alvo de polêmicas com a gestão de Corrêa. Nos últimos oito anos, foram mais de 15 mil prisões. Cerca de 10% dos detidos eram servidores públicos. Ao todo, houve 2.560 operações. A partir de 2008, A PF retomou o foco no combate ao crime organizado e, principalmente, ao narcotráfico.

Diante desse quadro, Cardozo e Dilma descartaram atender ao pedido de Tarso para nomear o superintendente no Rio Grande do Sul, Ildo Gasparetto; o lobby de Corrêa por Roberto Troncon Filho, atual diretor de combate ao crime organizado; e até a sugestão de Bastos e do atual titular da Justiça, Luiz Paulo Barreto, por Geraldo José Araújo, secretário de Segurança do Pará. Além deles, Cardozo também entrevistou o atual diretor executivo, Luiz Pontel de Souza.

Daiello chegou a resistir em assumir o posto. Preferia ter sido nomeado adido na Embaixada na Itália. ¿Se me derem essa missão, assumo¿, comentou o futuro diretor-geral a um interlocutor. Segundo a fonte, ele teria dito que preferiria até assumir a superintendência do Rio Grande do Sul. Cardozo ignorou os sinais contrários e fez o convite. No anúncio, o ministro indicado por Dilma elogiou o trabalho de Corrêa e dos delegados entrevistados para o cargo. Minimizou disputas internas e disse ter encontrado uma instituição em ¿clima de harmonia¿. Classificou possíveis problemas de naturais.

Gremista Gaúcho de Porto Alegre, Daiello tem 44 anos, é casado e pai de duas filhas. Começou na Polícia Federal em 1995, em seu estado natal. Gremista ¿ como faz questão de ressaltar ¿ é a segunda vez que substitui Corrêa em um cargo de chefia. A outra ocorreu há alguns anos, quando o atual diretor da PF foi transferido para Brasília e Leandro assumiu a Divisão de Repressão à Entorpecentes no Rio Grande do Sul. Em abril de 2008, tomou posse na Superintendência da PF em São Paulo, depois de ter sido coordenador-geral de Repressão a Crimes Fazendários.

Senad com Cardozo

O futuro ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, confirmou que a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) sai do Gabinete de Segurança Institucional e ficará sob sua responsabilidade na pasta. ¿A presidente eleita decidiu que a Senad vai para o Ministério da Justiça¿, afirmou. Cardozo explicou que a intenção é casar a política de combate às drogas com a de segurança pública.

Dilma concretiza uma antiga intenção do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e enxuga as atribuições do GSI, focando a estrutura na segurança presidencial e na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Durante a campanha, o Correio revelou a intenção da então candidata em colocar a Senad dentro da Justiça.

O deputado federal afirmou que já decidiu quem comandará as secretarias do Ministério da Justiça e que pretende anunciar os escolhidos hoje. O atual titular da pasta, Luiz Paulo Barreto, volta a ocupar a secretaria executiva, cadeira que comandou na gestão de Tarso Genro. Ontem, Cardozo confirmou a permanência do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Hélio Derenne. (TP)