Título: Produção de um banco cai de dois dias para duas horas
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Empresas, p. B9

Cada vez mais pressionados para aumentar a produtividade, os fornecedores da indústria automobilística começaram a prestar mais atenção aos ensinamentos da cultura oriental ditados pela Toyota. Seguindo o modelo, em apenas um ano, a filial brasileira da Isringhausen, fabricante de bancos para motorista de caminhões e ônibus, conseguiu reduzir o tempo de produção de uma peça de dois dias para duas horas.

O banco do motorista de um caminhão ou ônibus é um equipamento complexo. Tanto que merece fabricantes exclusivos. As empresas que fabricam esse produto não são as mesmas que fazem os bancos dos passageiros dos próprios ônibus ou mesmo dos passageiros e motoristas dos automóveis, que são bem mais simples

Em caminhões pesados e ônibus rodoviários, o banco do motorista leva suspensão, um item sofisticado. Ao todo, um banco desses representa a junção de algo em torno de 350 peças, nas contas de Enos Gomes, diretor geral da Isringhausen, uma multinacional alemã que lidera as vendas na Europa. No Brasil, a empresa divide mercado com outra alemã, a Grammer. Aqui a Isringhausen lidera o segmento dos pesados.

Gomes passou 17 anos na fábrica da Isringhausen trabalhando como engenheiro e observando a complexidade da montagem dos bancos, um trabalho quase artesanal. Tudo funcionava de modo demasiadamente misturado e desarrumado. Ao assumir o comando da empresa, há três anos, decidiu buscar novos conceitos de produção.

Com a ajuda de uma empresa especializada, a Isringhausen não apenas reduziu o tempo de produção de dois dias para duas horas como ainda ganhou 30% de espaço. Graças a isso, conseguiu colocar no lugar a linha de uma nova família de bancos, que chegou graças a um novo contrato.

O modelo de manufatura limpa, que rege a produção da Toyota em todo o mundo, foi estendido aos fornecedores. "Havia falta de confiabilidade na pontualidade das entregas", diz Júlio Moreira Coelho, diretor da Quality Way, a empresa contratada para a missão.

Gomes tem uma galeria de fotos que divide o "antes" e o "depois" da reforma na maneira de produzir. Antes, a falta de sintonia com os fornecedores provocava acúmulos de estoques de componentes desnecessários. Conseqüentemente, espaços hoje que aparecem livres, prontos para novas células de produção, no passado davam lugar a fileiras de bancos que lembravam um grande auditório.

As soluções do ensinamento japonês para a área de manufatura são extremamente simples. Mas eficientes. Recursos visuais, como cores, ajudam a facilitar a identificação dos processos. O mais difícil, afirma Coelho, é modificar a cultura nas empresas. Na Isringhausen, o enxugamento eliminou o segundo turno de trabalho. Mas muitos dos operários demitidos com a redução do trabalho para um turno foram chamados posteriormente porque, com mais espaço, a empresa ganhou mais encomendas.

A Isringhausen, que começou no Brasil com a produção de molas para veículos comerciais - outro braço da atividade ainda hoje- se instalou no país há 40 anos e desde então permaneceu na região do ABC, onde estão grandes clientes como Scania e Mercedes-Benz. Em 1982, estimulada pela Volvo, cliente aqui e na Europa, começou a produzir os bancos no Brasil.

Recentemente, a empresa ergueu uma unidade em Sete Lagoas (MG), para ficar mais próxima da Iveco. Hoje a empresa trabalha ao ritmo de 650 unidadespor dia. Isso dá o total anual de 142 mil bancos em Diadema e mais 57 mil em Sete Lagoas. A linha inclui ainda os bancos para os condutores das grandes máquinas usadas por mineradoras e empresas de construção civil, como retroescavadeiras.

Os volumes estão 15% maiores do que no ano passado. Para esse ano, a empresa espera crescer mais, inclusive no faturamento, que no ano passado somou R$ 140 milhões líquidos.