Título: Ashmore negocia gás para TermoCuiabá
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Empresas, p. B10

O preço do gás importado da Bolívia destinado à térmica de Cuiabá aumentou 285% - de US$ 1,09 para US$ 4,20 por milhão de BTU - desde o dia 15 de maio. Mas ainda não foi definida a nova tarifa de energia que será paga pelos consumidores brasileiros, apesar do repasse já ter sido autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A TermoCuiabá, ou TermoPantanal, tem contrato de venda de energia com Furnas Centrais Elétricas válido até 2017.

Os donos da usina ainda negociavam, na sexta-feira, na Bolívia, com a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) os volumes de gás que serão enviados. Os bolivianos asseguram o suprimento de 1,5 milhão de metros cúbicos/dia para a usina, mas o valor é menor do que o contrato que existe com a empresa Andina (da Repsol, que também está em fase de venda do controle para a YPFB) de exportar até 2,2 milhões de metros cúbicos de gás/dia.

Com menos gás, a usina não poderá gerar sua capacidade total, que é de 450 MW. Agora, é preciso decidir quem vai pagar a diferença entre o volume contratado por Furnas, que revendeu a energia para o sistema elétrico em leilão promovido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e o que efetivamente será gerado.

Teoricamente, a estatal elétrica teria de buscar no mercado spot essa energia para honrar seus contratos, mas isso ela não vai fazer. A questão ainda depende de decisão que passa por Brasília. O que já está certo é que o aumento do gás vai elevar a tarifa da TermoCuiabá, hoje uma das usinas com energia mais barata do Brasil. No último Programa Mensal de Operação (PMO) do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o custo variável da energia dessa térmica era de R$ 6,27 por megawatt/hora (MWh).

A partir da nacionalização aprofundada pelo presidente Evo Morales em maio de 2006, a YPFB passou a ser responsável pelas vendas de gás para o mercado interno e externo, tirando autonomia da Andina, que não pode mais honrar o contrato de venda de gás. A YPFB vem defendendo que além do reajuste de preço e redução do volume, o contrato de suprimento para Cuiabá seja do tipo flexível, o que significa que as exportações podem ser suspensas a qualquer momento.

A TermoCuiabá pertence hoje à inglesa Ashmore Energy International, que comprou ativos da Enron depois da falência da americana. Na semana passada, a Ashmore adquiriu, por valor não divulgado, todas as participações de sua sócia Shell em diversos ativos no Cone Sul, incluindo gasodutos de transporte de gás na Bolívia e Brasil e a térmica de Cuiabá.

No pacote a Ashmore assumiu o controle da Empresa Produtora de Energia Ltda. (EPE), nome fantasia da TermoCuiabá, comprando os 50% da Shell, além do gasoduto que atravessa os dois países levando gás diretamente da Bolívia para a usina - os gasodutos GásOcidente e GásOriente - além da comercializadora criada para vender a energia da usina.

Na Transredes, maior transportadora de gás da Bolívia e que está sendo renacionalizada, a Ashmore comprou 25% além das duas empresas que operam o Gasoduto Bolívia Brasil. Do lado boliviano a Shell vendeu 17% da Gás TransBoliviano S.A. (GTB) e do lado brasileiro ela se desfez de 4% da Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), que opera o lado brasileiro. Os detalhes foram divulgados pela Shell.