Título: Aplicações externas acirram competição
Autor: Aguilar, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Caderno Especial, p. F3

A internacionalização do mercado de capitais brasileiro vai aumentar a concorrência interna, seja para gestores, produtos, serviços e profissionais do setor. A avaliação é do presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Trindade, durante a abertura do 4º Congresso de Fundos de Investimento, realizado pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), em São Paulo.

Segundo Trindade, a CVM estuda nova norma para que fundos de investimento constituídos no Brasil possam investir até 100% dos recursos no exterior. Recentemente, a internacionalização do mercado foi proporcionada pela instrução nº 450, publicada no final do mês de março, permitindo que os fundos possam aplicar até 10% dos seus recursos no exterior. Para os fundos multimercados, o limite é maior, de até 20%.

Não foi divulgado prazo para a publicação da nova norma. "Deve sair daqui a algumas semanas e não em meses", afirma o presidente da CVM. Trindade explica que deverá haver um espaço de tempo entre a publicação da norma e a colocação dela em prática pelo investidor.

"A internacionalização do mercado de capitais é uma adaptação à realidade da globalização. Com a internet, os investidores que quisessem comprar ativos no exterior, aplicavam lá fora do mesmo jeito. A CVM decidiu regulamentar o assunto para o investimento ser feito por meio de um fundo local", afirma.

Para o presidente da Anbid e vice-presidente do Banco Itaú, Alfredo Setubal, mesmo com a internacionalização, as melhores oportunidades para o investidor ainda estarão no mercado local devido ao crescimento do Brasil. Além disso, já se percebe, em outros países, que os investidores que aplicam no exterior costumam colocar 80% da própria poupança no mercado de capital local. "O efeito da internacionalização no curto prazo, de cerca de dois anos, é pequeno".

A necessidade de um tempo entre a publicação das regras e a efetiva aplicação no exterior é um processo natural, afirma o diretor superintendente Bradesco Asset Management (BRAM), Robert John Van Dijk. Primeiramente, as regras da instrução nº 450 serão consolidadas nos prospectos dos produtos e, depois, a "cultura de risco" será trabalhada.

"Vamos entender para depois nos fazermos entendidos em relação às aplicações no exterior. O investidor qualificado requer um determinado tipo de ação para a compreensão do produto, enquanto que no varejo - segmento de forte atuação do Bradesco - há necessidade de outro tipo de esforço", afirma o diretor.

Para as instituições financeiras, com foco no atacado, algumas medidas relacionadas à internacionalização do mercado de capitais brasileiro já estão sendo colocadas em prática. Na gestora independente de recursos Hedging Griffo, o sócio Ricardo Jardim explica que, na semana passada, analistas começaram a percorrer Argentina, Chile, Colômbia e México para avaliarem ativos em outros mercados. As visitas partiram de um convite feito por um banco de investimento, com nome mantido em sigilo.

Jardim diz que instituições de outros países da Ásia, da Europa e da América vão passar a ter representantes no Brasil para divulgar o produto de investimento deles no mercado local. Esta seria uma das primeiras conseqüências da internacionalização.

A partir daí, os profissionais de administradores de recursos internos passam a oferecer os ativos internacionais aos brasileiros. "Mas, para isso, é necessária muita pesquisa para saber qual será a melhor aplicação para o meu cliente: na Ásia, na Europa ou na América Latina?", afirma Jardim.

Fazendo a aplicação no exterior, por meio de uma instituição local, o investidor terá serviços agregados como, por exemplo, recolhimento do Imposto de Renda (IR) no devido prazo, sem ter de contratar empresas internacionais para resolver as dúvidas que aparecem. "A internacionalização vai gerar demanda maior de serviços adicionais, de profissionais, gestores, produtos. A vantagem é para o cliente e para o mercado local. Só temos a ganhar", diz Jardim.

Na opinião do diretor do banco global UBS Pactual, Sérgio Cutolo, a possibilidade de aplicar em diferentes países é de extrema importância para a diluição do risco de carteira do investidor.

Atualmente, o UBS Pactual é o segundo maior banco em volume de recursos aplicados em fundos de cotas, com R$ 55 bilhões. Cutolo explica que deste montante, R$ 25 bilhões estão em multimercados - que já podem aplicar até 20% dos seus recursos no exterior.