Título: Inmetro espera R$ 250 milhões para modernizar processos de medição
Autor: Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2005, Brasil, p. A2

Na expectativa de receber expressivos R$ 250 milhões, em três anos, a fundo perdido, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) prepara-se para ampliar as atividades. "Vamos ampliar nosso papel como agente do desenvolvimento industrial. É o que acontece nos organismos com o mesmo perfil nos países desenvolvidos", diz o novo presidente do órgão, João Alziro Herz Jornada. Ele explica que, na Alemanha, na década de 1870, ao mesmo tempo em que foi criada a instituição voltada à metrologia - a ciência das medições -, eram enquadradas na mesma estrutura atividades para criação de processos de medição para inovar e melhorar produtos. A proposta abarcada pelo governo alemão foi de Herman Von Siemens, fundador da Siemens. Já no início do século 20, Albert Einstein fez parte do conselho do instituto. Físico, com pós-doutorado do National Bureau of Standards, nesta sua primeira entrevista no comando do instituto, Jornada, ressalta que, há muito tempo, o Inmetro deixou de ser apenas fiscalizador de pesos e medidas. A função principal do instituto, que é a defesa do consumidor, deve ser valorizada. Mas a indústria cada vez se sofistica mais, as relações se tornam mais complexas em termos de grandezas físicas e as medições precisam de alta confiabilidade. É neste nicho que a especialização do Inmetro pode entrar. "A vida, em geral, ficou mais complexa. Há duzentos anos, eram apenas medidos o volume de leite, o peso dos alimentos, o comprimento de tecidos. Hoje, há itens de qualidade que não tratam de grandeza física. Um exemplo claro é o do preservativo, em que o fundamental é a qualidade. O Inmetro certifica esses produtos, mas à medida que se desenvolvem processos de medição, pode-se melhorar produtos, inovar", avalia o gaúcho. Jornada foi nomeado presidente em dezembro mas já era diretor do órgão. Um exemplo simples do que é essa sofisticação, segundo ele, está nos automóveis. Hoje, não precisam mais ter o motor "amaciado", como acontecia no passado. Ele lembra que, antes, a exatidão, as tolerâncias entre pistão e cilindro não eram bem estabelecidas. Quando o motor era novo, o dono tinha que andar devagar para evitar dilatação. Hoje, as medidas são mais exatas e isso permite que o motor já saia da fábrica amaciado. "A indústria hoje utiliza itens cuja exatidão é menor do que a de um fio de cabelo e que precisam seguir um padrão". O Inmetro foi criado em 1973, já com mais atribuições do que seu antecessor, o Instituto de Pesos e Medidas, cujos primórdios são do tempo do Império. Como autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, já certificou bilhões de produtos, processos e serviços. Só no item brinquedos foram 3 bilhões os que receberam a avaliação de conformidade, como é tratada a certificação no jargão do setor. Os preservativos citados por Jornada entram na chamada certificação compulsória. São 59 produtos, como capacetes, pneus, mamadeiras, preservativos, chupetas, interruptores, mangueiras de botijão de gás de cozinha, entre outros. Para atender às novas demandas, o Inmetro vai construir dois laboratórios. O primeiro, com investimento de R$ 62 milhões, será para materiais. O investimento inclui a construção do prédio no município de Duque de Caxias, no bairro de Xerém, Estado do Rio, onde fica a sede do instituto. O outro, com investimentos de R$ 65 milhões, será de química. Está sendo negociado com o governo federal um terceiro, de vazão. Os recursos que o Inmetro vai receber também vão equipar os atuais laboratórios. "Nosso trabalho é também tornar o Inmetro um centro irradiador de conhecimento", afirma o novo presidente. Entre as novidades está um programa na área da condutividade térmica, que é a capacidade de isolar a perda de calor. "A eficiência de uma geladeira, por exemplo, está muito ligada à eficiência de seu material isolante. Estamos estudando materiais, produzindo documentação de referência", diz. O instituto já atua disseminando padrões internacionais, como certificador de qualidade, e fornece dados sobre exigências de cada país para a exportação de produtos brasileiros. As frutas são um exemplo de novos produtos em que o Inmetro está trabalhando em parceria com o Ministério da Agricultura. O Brasil é o terceiro produtor mundial de frutas, com um volume de 43 milhões de toneladas. Mas para exportá-las é necessário que sejam certificadas, com avaliação de conformidade que demonstre, por exemplo, a ausência de resíduos agrícolas cancerígenos. Uva, papaia, caju, melão, pêssego, laranja, limão e tangerina estão certificados. Em 2005 deverão entrar na lista banana, coco, açaí e goiaba. Outro caso interessante é o da cachaça. A produção nacional é de 2 bilhões de litros por ano, mas apenas 1% desse total é exportado, em parte por razões fitossanitárias. O Inmetro está trabalhando para mostrar que os produtos não contêm carbonato, substância cancerígena que se forma dependendo do tipo de destilação.