Título: Câmbio atrapalha oferta exportadora
Autor: Denise Neumann
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2005, Brasil, p. A3

Os empresários ligados ao Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) estão convictos de que a gestão Palocci/Meirelles "pisou na bola" em matéria cambial. O país encerrou 2004 com um aumento de 32% nas vendas externas, o que parece um resultado incoerente ante a perda expressiva de rentabilidade não só em 2004, mas que se aprofunda desde 2001 para a maioria dos setores. O diretor-executivo da entidade empresarial, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, lista os fatores que, segundo ele, ajudaram a fazer esse resultado. E a história começa na superdesvalorização do câmbio efetivo entre os anos de 1999 e 2002. Naquele ano, a taxa de câmbio real subiu muito, influenciada pela desvalorização decorrente dos efeitos eleitorais. As taxas setoriais de câmbio acumulavam, naquele ano, ganhos de 15% (açúcar) até 47,9% (veículos), na comparação com o último ano pré-flutuação cambial. "Com esses resultados na mão, as empresas tomaram decisões de apostar no mercado externo. Muito do que vimos em 2004 reflete posições tomadas naquele momento", observa Gomes de Almeida. Além deste fator estratégico, o executivo lista os conjunturais, como o aumento dos preços de exportação, a capacidade ociosa na indústria e o crescimento da economia mundial. "Não foi a política comercial ou cambial do governo que fez o resultado excepcional do ano passado. Foi o dinamismo da economia mundial, que gerou uma demanda generalizada por produtos industrializados e agrícolas no mundo todo", acrescenta. Em 2004, segundo dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), o crescimento de 32% nas exportações do país veio de uma combinação de 11% de aumento de preço e 17% de volume, sendo que, mesmo em bens manufaturados, o ano registrou uma recuperação de 6,8% no preço de exportação. "Há 30 anos, não ocorria uma conjunção tão positiva no mercado internacional para os países em desenvolvimento", pondera Gomes de Almeida. Na avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), o comércio para os países em desenvolvimento cresceu 22% em 2004 e havia crescido 21% em 2003. "O Brasil aproveitou essa situação e cresceu suas vendas externas em 21% em 2003 e mais 32% no ano passado", acrescenta o diretor do Iedi. Esse "paraíso mundial", contudo, não vai se repetir em 2005, acredita o economista. O mercado mundial não vai desabar, mas o cenário começa a ser menos benigno. E para compensar, câmbio é fundamental. Na avaliação do Iedi, o que está em jogo com a atual taxa de câmbio é o futuro da oferta para a exportação. "As taxas desestimulam novos investimentos", argumenta Gomes de Almeida. Para ele, ou muda o câmbio ou as empresas partem para buscar ganhos expressivos de produtividade. "Serão necessários dois a três anos de ganhos de produtividade para diluir essa queda na rentabilidade", pondera o diretor do Iedi. Ele não acredita em reversão de custos, com exceção de alguns casos localizados, como aqueles oriundos da forte alto do aço no mercado internacional e, por conseqüência, no doméstico. (DN)