Título: Comportamento dos preços se inverte e pressão mais forte passa a ser no varejo
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2005, Brasil, p. A4

Se ao longo da maior parte de 2004 os preços no atacado ficaram pressionados e os no varejo permaneceram comportados, agora a lógica parece ter se invertido. Basta comparar os resultados do IPCA de dezembro, com alta de 0,86%, com a primeira prévia do IGP-M de janeiro, que subiu 0,2%, em grande parte devido ao comportamento favorável dos produtos industrializados no atacado. Segundo analistas, essa tendência deve se repetir nos próximos meses. O economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, avalia que os índices ao consumidor devem começar o ano pressionados não apenas por fatores sazonais, como o aumento de mensalidades escolares. Para ele, os serviços tendem a seguir em alta razoavelmente forte. Em dezembro, o item consertos e manutenção subiu 1,28%, enquanto serviços pessoais tiveram alta de 0,94%. Fenolio diz que os preços desses itens tendem a aumentar mais num ambiente de demanda robusta e recuperação da renda. Num quadro assim, a tolerância a aumentos costuma ser maior. Para ele, outra possível fonte de pressão sobre os IPCs é o risco de repasse, para o varejo, das altas significativas dos preços industriais no atacado em 2004. Fenolio lembra que o IPA industrial subiu 19,5% em 2004, o que pode levar as empresas a tentar repassar esse aumento de custos para o varejo. Para o economista Jankiel Santos, do ABN AMRO, os resultados mais recentes do IPCA mostram uma inflação que de modo algum está fora de controle, mas que se acomodou em patamar incompatível com as metas. Uma taxa de 0,6% equivale a 7,4% em termos anualizados, bem acima do alvo perseguido pelo BC em 2005, de 5,1%. Se os IPCs estão pressionados, o cenário parece bem diferente nos IPAs. Os preços industriais no atacado, que aumentaram muito em 2004, perderam força nas últimas semanas. Na primeira prévia de janeiro do IGP-M, tiveram alta de apenas 0,16%. Um dos motivos é a valorização do câmbio, assim como a queda nos preços de óleos combustíveis e querosene para motores, que acompanham de perto a flutuação do petróleo, pois são reajustados a cada 15 dias. A boa notícia é que o comportamento positivo do atacado tende a se refletir nos IPCs após algum tempo, lembra Fenolio. Aumentos moderados nos IPAs nos próximos meses, se confirmados, vão ajudar a diminuir o risco de repasse para o varejo. Em janeiro, haverá alguma pressão no atacado devido à nova rodada de aumento do aço, mas a expectativa é que o IPA perca força nos meses seguintes. A manutenção do dólar em níveis baixos, na casa de R$ 2,70, também deve continuar a ter impacto sobre os índices ao consumidor, segundo analistas. Mas, por enquanto, como os indicadores continuam rodando bem acima das metas, os analistas consideram que o BC vai promover mais aumentos da taxa Selic. Santos, por exemplo, acredita que os juros, atualmente em 17,75% ao ano, sobem 0,5 ponto percentual nesta semana e mais 0,25 ponto em fevereiro.