Título: Inflação caminha para 3º ano de queda
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2005, Brasil, p. A4

A inflação de 2004 confirma a trajetória de queda dos preços no país nos dois primeiros anos de governo Lula. Na avaliação dos economistas ouvidos pelo Valor , essa tendência deve se manter em 2005. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE na sexta-feira, fechou o ano com variação de 7,60% impulsionada por uma taxa de 0,86% em dezembro. O resultado mensal ficou acima das projeções do mercado, de até 0,84%. Mas, no total, o IPCA situou-se pouco abaixo do teto da meta - 8% - fixada pelo Banco Central, de 5,5%, com 2,5% de banda para cima ou para baixo. E abaixo também dos 9,30% de IPCA registrados de 2003. Foi a primeira vez desde 2001 que a meta foi cumprida. Para 2005, a autoridade monetária persegue uma taxa central de 5,1%, enquanto o mercado aposta num IPCA entre 5,5% e 6%, inferiores ao teto da meta, de 7%. Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, prevê que o novo ano será o terceiro de inflação mais baixa e de crescimento da economia, "coisa que não acontece no Brasil há séculos". O câmbio e as commodities agrícolas estão favoráveis a taxas mais baixas, diz ele. O núcleo do IPCA, calculado pelo economista Ricardo Braule com base na mediana, vem se mantendo entre 0,48% e 0,50% ao mês, e fechou 2004 em 7,24%. Braule afirma que, apesar dessas taxas mensais estarem abaixo das do índice cheio, o resultado ainda é preocupante, pois é o décimo primeiro mês do ano em que o núcleo se situa acima de 0,42% ao mês, projetando de forma consistente uma inflação superior a 5,1% para 2005. Para Cunha, da PUC, riscos como a alta dos juros nos EUA podem impactar principalmente o dólar e a entrada de capitais. Mas estes não criarão pressões no primeiro semestre. Esse cenário favorável, segundo Cunha, não será suficiente para convencer o Copom a não elevar a taxa da Selic em 50 pontos, nesta semana. "Creio que o Banco Central já está chegando ao limite dessa política", comentou. Para o economista, o vilão da inflação em 2004, o petróleo, ainda é uma ameaça. Mas se as cotações ficarem abaixo de US$ 50 o barril, não deverá haver problemas. "Poderemos ter estabilidade, pois os preços internos já estão equiparados ao preço externo do petróleo. Não creio no petróleo como fator de pressão inflacionária em 2005". Os dados do IBGE revelam que o IPCA de dezembro foi afetado pela alta dos derivados, com destaque para a gasolina. No mês passado, a gasolina ficou 5,06% mais cara para o consumidor e deu a maior contribuição para a inflação mensal, de 0,21 ponto percentual. O preço do litro subiu nos últimos três meses do ano 9,31%. No ano todo, a gasolina acumulou uma alta de 14,46% nos postos. Elson Teles, da Fides Asset Management, realça que os combustíveis e as tarifas públicas colaboraram muito para que os preços administrados fossem o destaque da inflação de 2004, acumulando alta de 10,20%, mas recuando ante os 13,20% de 2003.