Título: Cada vez mais frágil, Renan tenta encerrar caso
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 18/06/2007, Política, p. A8

O PMDB do Senado quer encerrar nesta semana a crise que atinge há quase um mês o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os pemedebistas avaliam que Renan estará refém dos partidos - especialmente o PT - enquanto durar o processo por quebra de decoro no Conselho de Ética. Está em investigação se ele usou recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagamentos pessoais. Ao lado do PMDB, o PT tem feito a proteção mais ostensiva do presidente do Senado no conselho, por meio da líder, Ideli Salvatti (SC).

Mesmo que o conselho julgue Renan inocente, em reunião prevista para essa terça, a maior preocupação dos seus aliados é com os efeitos do desgaste que vem sofrendo desde que a revista Veja publicou reportagem levantando suspeitas de uso de recursos da empreiteira Mendes Júnior em pagamentos pessoais. Esse assunto motivou a representação do P-SOL no conselho de ética, mas antes Renan se viu obrigado a dar explicações sobre suas ligações com o dono da Gautama, Zuleido Veras, apontado como chefe do esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal na Operação Navalha.

Além disso, PPS e PV se juntaram ao movimento desencadeado pelo P-SOL para trincar a barreira de proteção erguida em torno de Renan Calheiros. Esses partidos pretendem ampliar a ofensiva para que Renan se explique no Congresso - que o senador também preside -, no Supremo Tribunal Federal e no Ministério Público . O próprio procurador-geral da República, Antônio Fernandes de Souza, analisa a possibilidade de acionar Renan por supostamente ter apresentado documentação fria em sua defesa no Senado.

Na avaliação de senadores de vários partidos, Renan tem chances matemáticas para se livrar até por unanimidade do processo no conselho. Mas terá dificuldade de se recuperar do estrago político. A interlocução com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é aliado, deverá sofrer abalos. No comando do Senado, poderá ter a autoridade enfraquecida.

A vulnerabilidade de Renan começou a ser sentida na sexta, quando Renan chamou a seu gabinete senadores da oposição para rebater denúncias do Jornal Nacional, mas tucanos, senadores do DEM e Jefferson Péres (PDT-AM) se negaram, alegando que qualquer esclarecimento deveria ser dado no Conselho.

Por isso, a estratégia é pôr rapidamente um fim no processo do Conselho e movimentar a pauta do Senado com matérias legislativas importantes, como a reforma política que está sendo votada na Câmara dos Deputados.

As suspeitas levantadas contra Renan por reportagem da revista Veja referem-se a suposto uso de recursos da empreiteira Mendes Júnior em pagamentos pessoais à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos. A denúncia baseia-se no fato - confirmado pelo próprio pemedebista -de Renan ter repassado dinheiro a ela por meio de Cláudio Gontijo, funcionário da Mendes Júnior. Isso ocorreu antes do reconhecimento da paternidade.

Os próximos dois dias serão decisivos para o caso. Os senadores esperam ter acesso, até amanhã, ao resultado da perícia do Instituto Criminalístico Nacional da Polícia Federal nos documentos apresentados por Renan na sexta. Os peritos devem atestar ou não a autenticidade de guias de vacinação, guias de trânsito de animais (GTA), recibos e cheques entregues pelo pemedebista ao Conselho para comprovar operações de venda de gado de sua propriedade.

Na véspera, o Jornal Nacional veiculou reportagem mostrando diversas irregularidades em supostas comercializações de gado da propriedade de Renan. A notícia obrigou o Conselho a adiar a votação do parecer de Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que inocenta Renan, marcado para a última sexta. O próprio Renan decidiu propor a perícia nos documentos, alegando querer todos os esclarecimentos. As operações de venda de gado foram usadas pelo presidente do Senado para mostrar capacidade financeira de arcar com pagamentos à jornalista.

Hoje, o conselho ouve o depoimento de Gontijo.Também seria convidado a depor o advogado da jornalista, Pedro Calmon Filho. Porém, ele avisou que o Estatuto da Advocacia o proíbe da falar sobre documentos, atos ou palavras de sua cliente. Disse que só iria se fosse acompanhado do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Além do impedimento jurídico, Calmon resistia a comparecer, por temer o tratamento que receberá. "Os senadores já têm pré-julgamento nesse caso. Acha que vou sozinho para ser achincalhado?", perguntou. Alguns senadores ligados a Renan estimulam rumores de que ele é vítima de chantagem, por questões pessoais.

Se a perícia ficar pronta a tempo, o conselho de ética votará amanhã o parecer de Cafeteira , que determina o arquivamento da representação do P-SOL -que pede processo por suposta quebra de decoro contra Renan. Cafeteira alega falta de provas.