Título: Redecard pode valer R$ 15 bilhões e fará maior oferta inicial de ações
Autor: Adachi, Vanessa e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 18/06/2007, Finanças, p. C1

Começa amanhã a maior operação de abertura de capital do ano e, também, a maior feita desde 2004, quando teve início o movimento de ingresso de novas companhias na bolsa brasileira. A empresa do setor de cartões Redecard dá a largada na apresentação aos investidores e pode valer algo como R$ 15 bilhões. Com isso, estima-se que o tamanho da oferta de ações possa ficar ao redor R$ 3,5 bilhões.

Nenhuma oferta inicial dos últimos três anos e meio chegou a cifra semelhante. No ano passado, a elétrica Cesp vendeu R$ 3,2 bilhões em ações, mas já era uma companhia listada na bolsa. Em termos de estréia, as operações de maior porte até então haviam sido a do frigorífico JBS (Friboi), em março deste ano, no valor de R$ 1,62 bilhão; a incorporadora Brascan, em outubro de 2006, com R$ 1,188 bilhão e a elétrica Energias do Brasil, com R$ 1,185 bilhão (2005).

O tamanho da Redecard chega a surpreender porque a empresa e suas operações têm pouca visibilidade. A companhia é especializada no credenciamento de estabelecimentos comerciais que aceitam os cartões Mastercard e Diners no país. Ou seja, opera dos bastidores das compras feitas com cartões. São mais de 1 milhão de lojas, restaurantes, farmácias, supermercados e outros. É ela também quem processa as transações e faz a liquidação financeira. No ano passado, passaram por seus sistemas R$ 83,7 bilhões em pagamentos com cartões, de crédito e de débito.

Haverá uma pequena oferta primária para aumento de capital - a empresa não precisa de recursos. A tônica da transação será uma oferta secundária, em que os bancos Unibanco, Itaú e Citigroup, seus controladores, venderão uma fatia de suas ações. Nenhum deles deixa o negócio. A participação de cada um é de quase 32% e, com a oferta, será reduzida para cerca de 24%. A Mastercard detém uma pequena participação, em torno de 5%.

Segundo analistas, o valor da Redecard na bolsa se situará numa faixa de R$ 13 bilhões a R$ 17 bilhões, dependendo do preço fixado na operação.

Há três semanas, uma proposta de compra da Redecard feita por dois fundos americanos tentou parar o processo do IPO. Segundo o Valor apurou, um fundo da Merrill Lynch, juntamente com o Carlyle, ofereceu algo entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões pela empresa. Chegou-se a suspeitar que o fundo da Merrill representaria, de fato, um comprador estratégico, como a Mastercard, que já é acionista.

Seja como for, a negociação não avançou. Ao menos um dos sócios se interessou pela proposta, mas Unibanco, Itaú e Citi teriam concluído que o desfecho das conversas era incerto, pois numa operação de aquisição sempre há o risco de fracasso. Resolveram seguir com os planos da oferta pública.

A operação da Redecard vai um pouco na contra-mão da tendência recente do mercado. Com investidores mais seletivos, ofertas secundárias têm encontrado pouco espaço. Os investidores preferem que seu dinheiro seja usado em planos de crescimento da empresa em vez de dar liquidez a posições de controladores.

No caso da Redecard, essa resistência tenderia a ser quebrada, entre outras coisas, pelo fato de que os acionistas vendedores não precisam do dinheiro. A venda das participações estaria mais ligada à estratégia futura da companhia, que passaria pela redução progressiva das fatias detidas pelos três bancos. Assim, a Redecard ganharia mais independência, poderia atrair novos clientes e ingressar em novos produtos.

A Redecard surgiu em 1996, de uma cisão da antiga Credicard. Naquele ano, Unibanco, Citi e Itaú avaliaram que era preciso uma especialização dos serviços de relacionamento com os estabelecimentos comerciais e fundaram a Redecard em parceria com a Mastercard. A sociedade na Credicard foi desfeita pelos bancos, mas manteve-se na Redecard.