Título: Meirelles persiste na defesa da meta de inflação
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2005, Finanças, p. C2

presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, aproveitou o calor do debate sobre a eficácia dos juros no controle de preços para fazer a defesa do sistema de metas de inflação. "Todos os países com taxas elevadas de crescimento têm inflação baixa", disse, ao discursar em evento da Câmara Americana, no Rio, na sexta-feira. Meirelles afirmou, mais de uma vez, que "a estabilidade é pré-condição para o crescimento". "Quanto mais focarmos em resultado melhor, porque saímos do debate, muitas vezes estéril, para o fato concreto, o que funciona e o que não funciona", disse. Meirelles evitou entrar na polêmica aberta pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que criticou a eficácia dos juros no combate à inflação. "O debate é sempre saudável e diferentes opiniões são sempre úteis na medida em que permitem aprofundar as análises", desconversou. Questionado se o sistema de metas é adequado para controlar preços administrados, Meirelles fez a defesa do modelo. Ele salientou que essa é a ferramenta considerada mais bem-sucedida no controle de preços em muitos países. "O sistema de metas no Brasil tem sido bem-sucedido à medida que o país passou por crises importantes, a partir de 1999, e os resultados até hoje foram positivos", avaliou. Meirelles disse que a meta do BC para este ano é de que a inflação medida pelo IPCA fique em 5,3% , levando-se em conta o cenário de juros e câmbio existente em dezembro de 2004. Ao comentar o resultado do IPCA no ano passado, acumulado em 7,6%, Meirelles disse que o BC irá analisar os números e que essa avaliação será objeto de comentários nos futuros relatórios de inflação. "Podemos dizer agora que está dentro do intervalo de metas e, portanto, dentro do intervalo de tolerância fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), ou seja, inflação na meta", destacou. Para Meirelles, as críticas surgidas em relação à meta de inflação têm duas características: uma é factual, decorrente da desaceleração da inflação, e a outra resulta da idéia de que, se o Brasil mantiver um índice de preços mais baixo, irá crescer menos. Contra esse argumento, Meirelles citou o exemplo de alguns países, como Cingapura, que nos últimos 14 anos cresceu à taxa média de 6,2% ao ano, com inflação anual de 1,5%. O Brasil, comparou, teve inflação média de 161,3% ao ano entre 1990 e 2003 e cresceu no período apenas 1,8% ao ano. "Muitas vezes os analistas pedem mais ousadia, o que no fundo quer dizer mais emoção, mas o fundamental é ter previsibilidade", argumentou. Ele se negou a fazer qualquer comentário sobre as projeções dos analistas sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a partir de amanhã. Na sua apresentação, Meirelles elencou indicadores como produção industrial, emprego e renda para justificar a política macroeconômica. "O Brasil mostra resultados consistentes, tendo uma estrutura equilibrada entre todos os fatores, que nos dá confiança de que estamos no início da rota do crescimento sustentado", afirmou.