Título: Previ tem nova estratégia para seu private equity
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 18/06/2007, Finanças, p. C10

Gato escaldado tem medo de água fria. O velho e sábio ditado popular calça como uma luva na recente história da Previ, o fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil (BB), com as aplicações em fundos de private equity. Com um patrimônio de R$ 106 bilhões, mais do que o valor de mercado do Bradesco, o maior banco privado do país, a fundação deve fechar no próximo mês a segunda etapa de investimento, no modesto valor de R$ 120 milhões, completando a não menos parcimoniosa cota de R$ 300 milhões que destinou para reingressar nesse negócio que, segundo o próprio diretor de Investimentos da instituição, José Reinaldo Magalhães, é dos mais promissores do mercado de capitais brasileiro. "Há uma nova onda de investimentos em private equity no Brasil", afirmou.

O comportamento contido da Previ explica-se, principalmente, por ser esta a sua primeira incursão no mercado após a turbulenta relação com o fundo fundo CVC Opportunity, na compra das participações no setor de telefonia à época das privatizações. Livre do relacionamento com o banco de Daniel Dantas (o CVC é agora administrado pelo Angra Partners), Magalhães prefere não se aprofundar em uma análise do período, alegando que ele mesmo não estava no cargo no auge da briga em torno da gestão das empresas Brasil Telecom e Telemig Celular. Diz apenas que a história foi "um problema claro de transparência e (falta de) governança na relação do investidor com o gestor".

Por conta dessa experiência, a Previ está agora buscando cercar-se de todos os cuidados para escolher os gestores dos fundos de private equity e de venture capital nos quais irá investir.

Na nova versão, não apenas participa do Comitê de Investimento do fundo como tem a maioria dos votos nesse comitê. "Isso é um fato novo. É um critério que até divide a responsabilidade do investidor no processo de seleção, mas que dá uma transparência total no processo de escolha dos investimentos", afirma Magalhães.

Segundo ele, outros fatores que pesam na balança são a experiência passada do gestor, a existência de uma equipe competente dedicada ao projeto, o histórico de performance e também a observância de princípios de responsabilidade sócio-ambiental e ética.

Na primeira rodada dessa nova investida em private equity, a Previ selecionou quatro fundos, dois de private equity e dois de venture capital, a partir de uma lista de 39, para alocar R$ 180 milhões que estão em processo de aplicação. A maior fatia foi para um fundo de infra-estrutura gerido pelo ABN AMRO e para um fundo de logística gerido pelo GP. Uma parcela pequena, de pouco mais de R$ 20 milhões, foi aplicada em dois fundos de venture capital, um de Belo Horizonte (Fee Capital) e um destinado a um pólo tecnológico em Pernambuco, gerido pela Rio Bravo.

A fase atual é de seleção dos interessados na aplicação da verba restante de R$ 120 milhões para a qual já se credenciaram 13 gestores. Os alvos segundo Magalhães, são os mesmos setores contemplados na primeira rodada. Até o final deste mês a instituição vai selecionar um a dos gestores de venture capital em um processo promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para programas na área de inovação. O restante, destinado a fundos de private equity puros, deve ser selecionado ao longo de julho.

Magalhães ressalta que a atual fase é de aprendizado e manifesta disposição de aprofundar esses investimentos desde que encontre bons projetos em portos, terminais, logística e outros. "Por incrível que pareça, está faltando projeto", ressalta.

O diretor de investimento da Previ disse que a instituição tem também problemas para ampliar as aplicações em fundos de private equity por conta da limitação para investimentos em renda variável (50% das aplicações totais) à qual os fundos de pensão estão submetidos.

Hoje a Previ está desenquadrada, com 62% das suas aplicações em renda variável. A fundação assinou um compromisso com o Conselho Monetário Nacional (CMN) pelo qual terá que se enquadrar até 2012. Mesmo assim, Magalhães avalia que será possível ampliar as aplicações em private equity, deslocando recursos de outros investimentos.

*O repórter viajou a convite da Previ