Título: Mais dinheiro circula na economia
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2005, Finanças, p. C3

Puxado pelo aumento do crédito bancário e pela retomada da atividade econômica, o volume de dinheiro em circulação no país registrou um crescimento de 22,2% em 2004, segundo dados divulgados pelo Banco Central. Foi uma expansão bem mais forte do que a do ano anterior (2003), quando cresceu 4,8%. Mas o movimento começa a perder vigor, em virtude do recente aperto na política monetária. Os dados acima referem-se ao papel moeda emitido, que é a soma do dinheiro em poder do público com os recursos mantidos no caixa pelo sistema financeiro. Mas, qualquer que seja o critério observado - depósitos em bancos, reservas bancárias, base monetária ou meios de pagamento -, o volume de dinheiro em circulação mostra em 2004 uma elevação da ordem de 20% em relação ao ano anterior. Todos os fatores que explicam o aumento do dinheiro em circulação em 2004 estão ligados à política monetária mais relaxada em relação a 2003, de acordo com um técnico do BC. Um deles é o crescimento mais forte do Produto Interno Bruto (PIB), tanto em termos reais quanto de seu deflator. Mantido tudo mais constante, este fator, por si só, obrigaria a elevação do dinheiro em circulação para fazer todas as transações na economia. Mas, além do aumento do PIB, há também uma mudança do comportamento do público - que ampliou sua preferência por liquidez, ou seja, sua propensão por manter papel moeda e depósitos em bancos. Isso fica claro por um indicador que é conhecido como velocidade-renda: o número de vezes que a massa de dinheiro (os meios de pagamentos, soma do papel moeda em poder do público com os depósitos à vista) precisa girar na economia para concretizar todas as transações medidas pelo PIB. A média móvel em 12 meses desse indicador caiu de 18 para abaixo de 16 entre dezembro de 2003 e 2004. Em outras palavras, como há um volume maior de dinheiro na economia, ele precisou girar menos vezes para que fossem feitas todas as transações do PIB. A expansão do crédito também colaborou para aumentar o volume de dinheiro na economia. Não há ainda dados fechados para o ano, mas, na posição de novembro, já havia sido registrada uma expansão acumulada de 16,6% nos empréstimos totais do sistema financeiro. Esse movimento também multiplica os reais em circulação. Mais dinheiro em circulação não representa, necessariamente, um descontrole ou um risco inflacionário. No regime de metas de inflação, o equilíbrio entre demanda e oferta na economia é feito por meio da taxa básica de juro, e os chamados agregados monetários perderam a importância que já tiveram A expansão do dinheiro dá sinais de perder força, em decorrência da política monetária mais restritiva adotada no segundo semestre de 2004. Em novembro, a base monetária (papel moeda emitido mais reservas bancárias, que são os compulsórios recolhidos pelos bancos ao BC sobre depósitos à vista) subiu 1,5%, abaixo dos 3% do mesmo mês de 2003; em dezembro, aumentou 13,5%, abaixo dos 16,1% de dezembro de 2003. Na programação monetária para 2005, o BC já projeta uma desaceleração ainda maior. No ano, é esperada uma variação de 11,9%, bem abaixo da taxa de 23,4% observada em 2004.