Título: Setor automotivo busca abertura com acordo bilateral
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Brasil, p. A3

Os representantes da indústria automobilística vão tentar fazer com que a abertura comercial para o setor aconteça exclusivamente por meio de acordos bilaterais. E querem, nesse processo, dar prioridade às negociações com a União Européia, exatamente onde as empresas que têm fábricas no Brasil concentram o planejamento estratégico para o mercado brasileiro. Assim, a aproximação com os europeus abriria espaço para o que as montadoras mais querem: dominar não só a exportação como também a importação de veículos no país.

A idéia de conduzir a liberação comercial do setor automotivo para o âmbito das negociações entre países é, antes de mais nada, uma forma de desviar essa indústria da abertura global prevista na Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC). Os representantes das montadoras passarão boa parte dos próximos dias tentando incluir o setor na lista de "sensíveis" da OMC, o que significa garantir aos carros e autopeças cortes inferiores à média nas tarifas de importação.

À iminência de uma conclusão, a Rodada Doha tem levado todos os setores a uma corrida para incluir seus produtos na lista dos itens sensíveis. A indústria automobilística não quer se ater a um ou outro produto. E sim incluir todo o setor.

O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças) informa que à entidade interessa defender que toda a cadeia produtiva seja inserida na lista de "sensíveis". Os representantes do Sindipeças lembram que os produtos do setor estão interligados. Cerca de 60% das vendas da indústria de peças seguem para as as montadoras.

"Nosso sossego virá quando conseguirmos entrar na lista dos sensíveis", afirma Elizabeth de Carvalhaes, uma das principais negociadoras do setor na área de comércio internacional. Diretora da Volkswagen e vice-presidente da Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos, Carvalhaes afirma que se as regras de rodada Doha prevalecerem as marcas asiáticas, não importando se têm ou não uma base industrial no Brasil, é que se beneficiarão do processo de abertura.

A executiva defende com ênfase a abertura comercial por meio dos acordos bilaterais. Aponta o caso do entendimento entre Brasil e México. Nessa negociação, o Imposto de Importação foi eliminado em pouco tempo. Mas, um sistema de cotas garantiu uma abertura gradual, que levou cinco anos.

Carvalhaes não esconde o interesse de dar prioridade às negociações com a Europa. Afinal, sustenta, lá está boa parte das empresas que também fabricam no Brasil, incluindo aí gigantes americanas, como General Motors e Ford, que elaboram os projetos dos veículos vendidos no Brasil com base em plataformas européias.

"Temos grande possibilidade de fazer intercâmbio com as próprias matrizes. Assim, quem investe e dá emprego no Brasil poderia trazer da Europa carros de luxo e continuar fabricando aqui o que sabe fazer de melhor no país - o carro compacto", afirma.