Título: Preparem-se, inquilinos
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 30/12/2010, Economia, p. 16

Os locatários que terão contratos de aluguel reajustados a partir de janeiro devem preparar o bolso para a correção mais salgada dos últimos seis anos. Conforme o Correio antecipou há 10 dias, apesar da desaceleração de 1,45% para 0,69% entre novembro e dezembro, o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), indicador ao qual estão atrelados a maioria dos acordos de locação, acumulou alta de 11,32% no ano, maior percentual desde 2004, quando a inflação medida pelo levantamento foi de 12,41%.

Para o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas, Salomão Quadros, o repique inflacionário é resultado de uma recomposição de preços decorrente da recuperação econômica. Em 2009, o IGP-M refletiu os efeitos da crise internacional (parte do indicador é influenciado por preços de commodities ¿ produtos básicos cotados em bolsas de mercadorias) e fechou o ano com deflação de 1,72%, fato inédito na história do índice.

Alimentos O conjunto de itens que puxou o resultado do ano foi o de produtos no atacado (medidos pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo), com alta de 13,90%. Individualmente, a mercadoria que mais se destacou foi o minério de ferro, que praticamente dobrou de preço (90,93%) em função da escassez de oferta. Os custos da construção por sua vez foram incrementados em 7,58%, pressionados pelo aumento nos salários dos trabalhadores do setor, e os preços ao consumidor encareceram em média 6,90%, com destaque para o grupo alimentação, com reajuste de 9,78%.

Salomão ressaltou que a tendência não deve se repetir em 2011 e que os primeiros sinais de alívio nos preços já foram observados em dezembro. ¿No acumulado do primeiro semestre de 2011, acredito que poderemos ver uma suave desaceleração (da inflação)¿, previu. O coordenador, no entanto, não descartou a possibilidade de alguns ¿sustos¿ serem verificados, uma vez que parte dos itens que influenciam o IGP-M respondem mais facilmente a fatores externos. ¿Ao longo do ano, podem haver alguns momentos que lembrem 2010, mas serão um ponto fora da curva, não será a tônica do ano que vem¿, estimou. Uma dessas surpresas pode ser, na avaliação de Quadros, a demanda chinesa que deve desacelerar no primeiro trimestre do ano, refletindo o aperto monetário feito pelo governo local, mas pode voltar a crescer, depois que a economia asiática afastar o perigo de inflação. (GC)

Inadimplência cresce 10,5% » A inadimplência das empresas cresceu 10,5% entre outubro e novembro, segundo a empresa especializada em análise de crédito Serasa Experian. Esse é o maior avanço do indicador desde março deste ano. Para os economistas da instituição, o aumento nos calotes é pontual e decorre de pressões sobre o caixa das companhias, como o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro, compras para a composição de estoques do Natal. Nos 11 meses de 2010, o calote foi 5,9% superior ao mesmo período de 2009. Quando comparada a novembro de 2009, a inadimplência caiu 2,4%, maior recuo desde 2006, considerando essa base de comparação. A Serasa Experian estima que os calotes das empresas diminuam nos primeiros meses de 2011, em função da manutenção do aquecimento da atividade econômica e da oferta de crédito crescente. (GC)

Peso para os pobres Zulmira Furbino

O peso do aluguel no bolso dos brasileiros de baixa renda é muito maior do que o que atinge a camada mais abonada da população. Nos bairros populares, e até nas vilas e favelas, o aumento do poder de consumo aqueceu o mercado imobiliário, aumentando a demanda por moradia. O problema é que quando não sobra dinheiro para dar entrada na casa própria, a saída é alugar.

Em novembro, segundo pesquisa da CMI/Secovi, o aluguel de um apartamento de dois quartos num bairro popular custava R$ 503,09 ao mês. Num bairro de renda alta, custava R$ 725. São apenas R$ 222 na diferença do preço da moradia entre as duas classes sociais.

Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) constatou que a relação do preço do aluguel com o valor do imóvel é muito mais alta nos bairros onde vivem as classes C e D. ¿Uma casa localizada numa favela custa R$ 30 mil e é alugada na faixa de R$ 400 ao mês (1,3% do valor total). Já imóveis de valores muito mais altos, R$ 700 mil, por exemplo, são alugados por 0,5% do seu valor de mercado¿, observa Pedro Humberto, técnico de planejamento do Ipea.

Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, avalia que o mal da classe de mais baixa renda não é o aluguel. ¿O problema dos pobres é a falta de financiamento imobiliário¿, diz. De acordo com o levantamento do Ipea, em 2009, 75% dos mais pobres financiaram 3% dos imóveis no país. No mesmo período, entre os 25% mais ricos, 9,5% entraram em financiamento.