Título: Superávit chinês é recorde; para a UE, é 'insustentável'
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Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Internacional, p. A10

O comércio chinês voltou a registrar números recordes em maio, o que gerou protestos de parceiros. A balança comercial da China teve superávit de US$ 22,5 bilhões em maio, um crescimento de 73% em relação a maio de 2006, segundo dados do governo chinês. As exportações do país no mês passado tiveram um crescimento de 28,7% na comparação com maio do ano passado, chegando a US$ 94 bilhões, enquanto as importações cresceram 19,1% na mesma comparação, atingindo US$ 71,6 bilhões.

A União Européia (UE) foi o principal parceiro comercial da China nos cinco primeiros meses do ano, com um movimento comercial bilateral de US$ 129,9 bilhões. Os EUA vêm em segundo lugar, com um comércio bilateral de US$ 115,2 bilhões de janeiro a maio - um crescimento de 18,2% na comparação anual. O Japão foi o terceiro maior parceiro comercial chinês, com um comércio bilateral de US$ 91,2 bilhões.

O superávit comercial da China acumulado entre janeiro e maio ficou em US$ 85,8 bilhões - perto da metade do acumulado durante todo o ano de 2006, US$ 177,5 bilhões. A expectativa do Banco Mundial para este ano é de que ele pode chegar a US$ 250 bilhões.

O superávit de maio ficou pouco abaixo da marca recorde para um resultado mensal, US$ 23,8 bilhões, atingida em outubro.

O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, disse ontem que esse superávit é "insustentável". Mandelson, que estará hoje em Pequim, disse que pediria diretamente ao ministro do Comércio da China, Bo Xilai, que o país tome medidas mais efetivas para resolver o problema.

O comissário europeu alertou que dados como os divulgados ontem serviriam apenas para aumentar as pressões por medidas protecionistas na Europa e nos EUA.

Setores empresariais e políticos da Europa defendem que novas cotas de importação sejam impostas para produtos como têxteis e calçados chineses.

Já o governo americano vem reclamando de um yuan "artificialmente baixo", que permite a invasão das exportações chinesas no mercado dos EUA e prejudica a competitividade dos produtos americanos no exterior.

No final de julho de 2005, o governo chinês agiu para acabar com o câmbio fixo do yuan, que era atrelado ao dólar. O sistema de câmbio do país passou a ser flutuante, mas controlado, em que a referência passou a ser a cesta de moedas (formada por dólar, euro, iene e won), com base no comércio exterior.

O Congresso americano está estudando uma legislação que force a China a reavaliar sua moeda de forma mais efetiva.

Pequim, por sua vez, vem dizendo há mais de um ano que quer um comércio "mais equilibrado", mas nenhuma das medidas adotadas gradualmente até agora teve impacto substancial.

O governo chinês cortou uma série de pequenos incentivos para as exportações, como a devolução de impostos, e até mesmo impôs taxas de exportação.

Entretanto o crescimento das exportações não dá sinais de que vá amainar. A China investiu pesadamente em portos e transportes, especialmente em Xangai e Guangzhou, no sul. Esses investimentos são um importante fator para fazer do país um exportador mais confiável para os mercados internacionais.

"Esperamos que o crescimento das exportações continue robusto, tendo como base a firme demanda mundial e a subvalorização da moeda. Enquanto isso, o superávit continuará a aumentar", disse o banco de investimentos Goldman Sachs, numa nota divulgada ontem.

O Capital Economics, de Londres, disse que, no atual ritmo de crescimento, o superávit comercial neste ano pode chegar a US$ 320 bilhões, "dez vezes o patamar registrado em 2004".

(Com o Financial Times)