Título: Para poder competir, AL deve melhorar infra-estrutura
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Internacional, p. A11

A falta de investimento em infra-estrutura nos últimos anos é responsável por alguns dos principais obstáculos que o Brasil e seus vizinhos na América Latina encontram para competir com a China e outros países em desenvolvimento, segundo um relatório divulgado ontem pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

Estradas esburacadas, malhas ferroviárias sem manutenção e portos sem capacidade para movimentar crescentes volumes de carga estão impedindo a região de se integrar às gigantescas cadeias de fornecedores que fazem girar parte significativa do comércio mundial atualmente, diz o relatório.

"Precisamos garantir que posicionaremos nossas indústrias para serem competitivas num ambiente de negócios cada vez mais globalizado", disse o secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, ao abrir o Fórum de Competitividade das Américas, reunião de executivos do setor privado e representantes de governos da região, organizada pelos EUA.

Estudo recente do Banco Mundial, que o relatório do governo americano reproduz, mostra que o investimento em infra-estrutura cresceu mais aceleradamente no Sudeste Asiático do que na América Latina nas últimas décadas. Entre 1980 e 1997, por exemplo, a taxa de crescimento da capacidade de geração de energia elétrica foi 91% maior na Ásia, e a expansão das estradas, 53% mais rápida.

Isso ajudou os países asiáticos a atrair investimentos estrangeiros e a explorar melhor as oportunidades criadas com o aumento do comércio internacional. "O investimento que os asiáticos fizeram para modernizar procedimentos alfandegários permite a eles acessar os mercados com muito mais rapidez", disse Stephen Flowers, presidente da divisão das Américas da UPS, que presta serviços de logística para grandes empresas.

O relatório do Departamento de Comércio defende ainda a necessidade de investimentos em educação, políticas de apoio à inovação tecnológica e medidas que melhorem o ambiente de negócios e tornem menos penosa a trajetória de pequenas e médias empresas. Segundo o Banco Mundial, são preciso 152 dias para abrir um negócio no Brasil. No México, bastam 27.

Para o economista peruano Hernando de Soto, que participou de um dos debates do fórum, em vários países falta também mexer nas leis e no aparelho judiciário. "O sistema legal na América Latina em geral é ineficiente e incompatível com a modernidade", disse De Soto, famoso por seu trabalho sobre a economia informal.

Um estudo que ele fez em 2006 para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugere que muitos países latino-americanos estão despreparados para se integrar de maneira mais profunda ao comércio mundial devido às dificuldades que suas empresas encontram para regularizar documentos e obter financiamento.

No Peru, que a equipe de De Soto estudou mais detalhadamente, ele só encontrou 5,6 mil empresas capazes de exportar seus produtos, de um total de 2,5 milhões de firmas registradas. A maioria vive na informalidade ou tem dificuldade para atender exigências burocráticas e requisitos legais que grandes empresas cumprem facilmente.

Nos cálculos de De Soto, que incluem os fornecedores locais dos exportadores peruanos, menos de 2% das empresas do país estão preparadas para aproveitar as oportunidades criadas pelo tratado comercial assinado com os EUA, que aguarda aprovação do Congresso americano para entrar em vigor.