Título: Excesso de oferta ameaça desempenho das aéreas
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Empresas, p. B2

Depois de apresentarem resultados surpreendentes no ano passado, as aéreas brasileiras enfrentam agora o desafio de manter a rentabilidade em alta. Este ano, como já era previsto, TAM e Gol estão aumentando a oferta de assentos num ritmo superior ao crescimento da demanda, ao menos no segmento doméstico. Segundo analistas, isso afetará negativamente os resultados das empresas. Num prazo mais longo, já existe o receio de que 2008 possa ser marcado por um excesso de oferta se o número de passageiros crescer em ritmo inferior ao que vem sendo registrado até agora.

Na disputa pela liderança do mercado, TAM e Gol acrescentam este ano mais 17 e 15 aviões a suas frotas, respectivamente. A Varig, comprada pela Gol em março, também terá um acréscimo de cinco aeronaves (a diferença entre a devolução de alguns equipamentos e recebimento de outros). Esse aumento do número de assentos disponíveis deve ultrapassar o crescimento da demanda de passageiros. Segundo dados divulgados ontem pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o mercado doméstico como um todo cresceu 13,6% de janeiro a maio deste ano, enquanto a oferta subiu 14,3%.

Diante desse cenário, as companhias aéreas líderes de mercado - TAM e grupo Gol tiveram juntos 95% de participação doméstica em maio - vêm reduzindo o preço médio das passagens para preencher os assentos adicionais. "Elas estão usando estratégias de promoção muito agressivas", diz Caio Dias, do Santander Banespa. "O segundo trimestre deverá ser ruim como o primeiro, mas esperamos melhora significativa no segundo semestre." Tradicionalmente, a primeira metade do ano é a mais fraca no mercado aéreo.

A maior preocupação dos analistas é com o chamado "yield", jargão do setor que indica quanto cada cliente paga por quilômetro viajado. No primeiro trimestre, os preços médios da Gol caíram 21,8% e o yield caiu 26,4%. No caso da TAM, esse item caiu 13,7%. Na semana passada, a Gol indicou que o movimento de redução continua, ao informar que o preço dos bilhetes no mês de maio foi 21% menor na comparação com o mesmo mês de 2006.

"A taxa de aproveitamento dos vôos determina o controle que as companhias têm sobre os preços cobrados", afirma André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company, que presta serviços para a TAM. "Se o aproveitamento cai, elas reduzem os preços. A conseqüência é uma queda na rentabilidade."

Para o consultor, existe chance de que os planos de frota da TAM e da Gol resultem em excesso de oferta já no ano que vem. "É quase impossível que a demanda cresça no mesmo nível da oferta (20%) em 2008 se os gargalos do setor não forem resolvidos." Além da crise dos controladores, as operações aéreas vem sendo afetadas pelas condições na pista de Congonhas, o principal aeroporto do país.

O analista de um banco acredita que já existe um excesso de oferta e que as aéreas estão sacrificando a lucratividade. Ele afirma que as companhias acabaram fazendo planos de frota mais ambiciosos porque atualmente há grande dificuldade em se conseguir aeronaves.

Castellini, no entanto, acredita que o descompasso entre oferta e demanda não chega a ser um problema grave, porque as companhias aéreas vêm ao mesmo tempo reduzindo custos com ganho de escala e iniciativas próprias. A queda do dólar nos últimos meses também alivia, pois quase 60% dos custos operacionais estão atrelados de alguma forma à moeda americana.

Dias e outra analista, que preferiu não ser identificada, afirmam que a preocupação com as tarifas e a queda da rentabilidade já foi maior no início do ano. "Estávamos mais céticos antes, mas o cenário macroeconômico melhorou no últimos meses", afirma o analista do Santander. Para eles, a demanda aérea continua em forte ascensão se comparada ao crescimento da economia em geral.

Já no segmento internacional, as opiniões convergem no sentido de que existe uma forte demanda reprimida desde que a Varig abandonou vários rotas no exterior, em meados do ano passado. Não há, segundo os analistas, grandes riscos de excesso de oferta, embora a ocupação nos vôos internacionais da TAM e da Gol tenha caído mais de cinco pontos percentuais de janeiro a maio.