Título: AngloGold atinge 60% de rentabilidade no Brasil
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Empresas, p. B10

Bobby Godsell, presidente mundial da AngloGold Ashanti, desembarcou no Brasil no fim da semana passado para ver de perto a conclusão de um projeto de expansão que é hoje modelo para toda a companhia, o da mina de Cuiabá, em Sabará (MG). A rentabilidade na mina de Minas Gerais é da ordem de 60% - o dobro da rentabilidade média de outras minas da AngloGold espalhadas por dez países, que varia entre 25% e 30%.

A multinacional está concluindo um plano de investimento de US$ 190 milhões para ampliar a produção de Cuiabá de 185 mil onças por ano para 300 mil onças anuais. Segundo Godsell, o projeto é hoje uma referência de como aumentar a vida útil de um ativo com o uso de modernas tecnologias. Com o modelo de exploração subterrânea em rampas, a mina de Cuiabá estará ativa até 2020. "É um bom exemplo de como tirar mais do que já se tem", diz ele.

Buscar "oportunidades dentro de casa" é neste momento, de acordo com o presidente da empresa, o grande desafio para a mineradora sul-africana. "Crescer orgânicamente é mais inteligente e é nossa prioridade", explica.

Embora a cotação do ouro esteja numa fase de alta - subiu 36% em 2006 - o presidente da AngloGold lembra que os custos operacionais do setor mineração também estão em alta. "A cotação do ouro não subiu tanto quanto a do minério de ferro, mas a pressão dos custos é a mesma", explica o executivo. "Por isso, gerenciar a margem é extremamente importante no nosso negócio", completa. Em Nova York, o ouro acumula uma alta de 2,81% no ano e de 7,94% nos últimos 12 meses.

A meta da AngloGold Ashanti é aumentar sua produção global - atualmente na casa de 5,7 milhões de onças por ano - de modo a manter sua participação de mercado. "E os níveis de rentabilidade esperados pelos acionistas", completa o presidente.

Para 2007, o investimento em expansão da produção somará US$ 1,2 bilhão, incluindo os aumentos das unidades industriais já em operação e desenvolvimento de novas minas em seis países. A maior parte dos recursos, porém, será aplicada em crescimento orgânico. Apesar das questões cambiais, que têm impacto negativo sobre a rentabilidade das minas do Brasil, Bobby Godsell diz que o país ainda é uma das melhores fronteiras para este crescimento orgânico. Sempre com base na experiência em Minas Gerais.

Só em Minas Gerais, a AngloGold tem outros dois projetos para ampliação da produção de ouro, nas minas de Lamego e Córrego do Sítio. Em Lamego, onde a companhia já investiu cerca de US$ 30 milhões, a expectativa é começar a produzir ouro dentro de cinco anos. A reserva estimada é de 2 milhões de onças, dos quais 1,2 milhão são lavráveis. O minério extraido dessa mina será enviado a unidade de tratamento e concentração construída na unidade de Cuiabá.

Na mina de Córrego do Sítio, no município de Santa Bárbara, a fase ainda é de pré-viabilidade. O potencial de reservas dessa mina é estimado entre 3,5 milhões a 5 milhões de onças. Os investimentos para exploração poderão somar mais de US$ 70 milhões.

No Brasil, a mineradora sul-africana controla também a mina de Serra Grande, em Goiás, numa joint-venture com a canadense Kinross. A exaustão desta mina está prevista para ocorrer dentro de seis anos. Mas as mineradoras acreditam na possibilidade de identificar novos corpos mineralizados no entorno da unidade. Só nesta pesquisa, o investimento é de US$ 7 milhões.

Serra Grande, segundo o presidente, é outro bom exemplo de gerenciamento das margens. A mina já chegou a ter 60% de rentabilidade, como Cuiabá. Hoje, a margem é de 52%. "O que ainda é um excelente resultado", destaca.

Com 21 minas em operação, a AngloGold Ashanti é a segunda maior produtora de ouro do mundo, atrás apenas da americana New Monde. A multinacional Anglo American, que já teve o controle da companhia com 51% do capital da AngloGold, detém hoje 41%. O restante está pulverizado no mercado.

Com a decisão da Anglo American, no fim de 2005, de reestruturar seus negócios, focando em outros minerais, sobretudo minério de ferro, a AngloGold ganhou ainda mais autonomia financeira e administrativa para traçar suas próprias estratégias. "É mais fácil assim", diz.

A AngloGold Ashanti tem ações negociadas nas bolsas de Johannesburgo, Nova York, Austrália, Londres, Euronext Paris e Euronext Bruxelas. A maior parte da produção, 54%, é de minas subterrâneas. Com a desvalorização do dólar, o ouro retomou um pouco do prestígio como moeda forte, para investimento. A avaliação dos executivos do setor, porém, é de o metal precioso continuará mais valorizado como adorno, em jóias, do que como investimento.