Título: Empresas captam para investimento
Autor: Silva Júnior, Altamiro e Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Finanças, p. C1

As empresas captaram R$ 25 bilhões no mercado de debêntures desde o início de 2006 para financiar projetos de investimento e aquisições. Outros R$ 14 bilhões foram captados para melhorar o passivo das companhias, seja por meio do alongamento de dívidas, recompra de debêntures já emitidas ou pelo pagamento de débitos antigos, mostra levantamento da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima).

Desde janeiro de 2006, foram levantados R$ 78,3 bilhões com debêntures. Entre as operações, a Lojas Americanas emitiu R$ 230 milhões para financiar a compra da rede de locadoras Blockbuster. A Vale do Rio Doce captou R$ 5,5 bilhões para auxiliar a compra da mineradora canadense Inco. Já o Pão de Açúcar captou R$ 780 milhões para alongar dívida e reduzir o passivo. Cabe ressaltar que, dos R$ 25,6 bilhões destinados para investimento ou aquisição, há R$ 15 bilhões de uma emissão da BFB Leasing, do Itaú.

Na avaliação de João Carlos Zani, do Bradesco Banco de Investimentos (BBI), um dos bancos que mais coordenam emissões, a tendência é cada vez mais empresas captarem via debêntures para financiar projetos de investimento. As condições do mercado melhoraram significativamente, com prazos mais longos, mais compradores e taxas mais favoráveis.

Nos prazos, o vencimento dos papéis já está na casa dos sete anos, o que era impensável há três ou quatro anos. Dependendo do rating, a companhia consegue lançar debêntures com pagamento só no final do prazo, sem amortização. Mesmo nos casos em que há amortização, o prazo do primeiro pagamento também subiu, passando para cerca de quatro anos.

Já o chefe de análise do Modal Asset, Eduardo Roche, acredita que as debêntures estejam começando a ser mais utilizadas pelas empresas de alguns setores como forma de melhorar a estrutura de custo de capital. "Isso pode estar ocorrendo no setor de construção, no qual muitas companhias abriram capital e fizeram pelo menos uma captação por meio de oferta de ações", avalia. "Não é interessante para uma empresa não ter alavancagem nenhuma, ou seja, dívida zero. Para o custo de capital na maioria das vezes é mais atrativo ter uma mistura de ações com dívida", observa Roche.

Além disso, o analista lembra que num cenário de queda de juro a dívida tende a ficar mais atrativa, porque o custo fica menor. "Acredito que esse fenômeno já está ocorrendo no segmento imobiliário, que está demandando muitos recursos para investir, e pode ocorrer também em outros setores", afirma.

O superintendente de registros da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Carlos Alberto Rebello, destaca a entrada de novos setores acessando o mercado. Além das construtoras, algumas empresas de telecomunicações e até redes de shopping centers estão emitindo papéis. Só em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) há 13 lançamentos, que totalizam R$ 8,3 bilhões. Outras dez emissões já foram aprovadas e totalizam juntas R$ 4,3 bilhões.

Paulo Eduardo de Souza Sampaio, superintendente geral da Andima, aponta o setor de telefonia como um dos com maior potencial de emitir debêntures nos próximos meses. "É um setor demandante de capital", destaca.

As emissões das telefônicas já começaram. A Companhia Telecomunicações do Brasil Central (CTBC), do grupo Algar, pediu na semana passada registro de companhia aberta à CVM, mas ao contrário da maioria das novatas que estão chegando ao mercado, vai lançar debêntures e não ações. A captação será de R$ 250 milhões.

Já outras empresas, como a Localiza Rent a Car e a Cyrela, do ramo imobiliário, que estrearam no mercado de capitais lançando ações, agora resolveram captar por meio de debêntures. O setor elétrico é o líder em operações este ano, com 29% das emissões registradas.