Título: BC quer limitar os riscos dos bancos com mudanças nas regras cambiais
Autor: Ribeiro, Alex e Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Finanças, p. C2

O objetivo do Banco Central com as mudanças nas regras cambiais anunciadas na sexta é impor limites prudenciais mais rígidos aos riscos assumidos pelos bancos, e não evitar uma maior apreciação do real, como chegaram a especular alguns analistas econômicos.

A mudança tem a ver com os alertas que o presidente do BC, Henrique Meirelles, vem fazendo sobre uma certa miopia dos mercados, que assume posições numa só direção. "É uma lembrança aos mercados de que os movimentos são nas duas direções", disse Meirelles em fevereiro, quando turbulências na Bolsa de Xangai depreciaram o real. "O trabalho do BC é tirar o ponche justamente quando a festa começa a esquentar", diz o economista Alexandre Schwartsman, do ABN AMRO. "Essa regra vale não só para os juros, mas para tudo, incluindo o câmbio."

O BC baixou três circulares na noite de sexta. Uma delas exige que os bancos tenham mais capital próprio para fazer frente aos riscos de descasamento de moedas; também exige capital para cobrir os riscos de descasamento entre posições em moeda estrangeira dentro e fora do país. Outra circular coloca um limite mais rígido para a exposição de câmbio, reduzindo-a de 60% para 30% do capital dos bancos. A terceira circular exige mais capital para as operações de câmbio, limitando a alavancagem nesse mercado.

Especialistas na área avaliam que uma das preocupações do BC era criar um limite mais rígido para a atuação dos bancos em um momento em que os riscos cambiais não estão sendo bem medidos. A quebra do Banco Marka em 1999, quando o país adotou o regime de câmbio flutuante, é um exemplo de como a falta de regras prudenciais pode causar grandes problemas.

Os riscos cambiais são medidos, tanto pelo mercado quanto pelo BC, pelos chamados modelos VAR, nos quais a volatilidade da cotação do dólar é ingrediente fundamental. Como o dólar ficou menos volátil, os riscos acabam subestimados. Outro problema é uma aposta unidirecional do mercado de câmbio. Investidores insitucionais, "hedge funds" e investidores nacionais acreditam apenas na valorização do câmbio. O que hoje parece uma aposta lógica, dada a melhora dos fundamentos econômicos, está sujeito a mudanças súbitas de humor.

Algumas análises diziam que as medidas do BC teriam o objetivo de reduzir a posição vendida de câmbio no mercado à vista, assim provocando a depreciação do real. Só que as circulares tratam da posição líquida em câmbio, incluindo os mercados prontos e futuro. E o fato de um banco ter uma posição vendida no pronto não significa necessariamente que tenha uma exposição cambial. O mais comum é os bancos fazerem operações de arbitragem, ficando vendidos no pronto e comprados no futuro.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que as normas do BC vão, "certamente", reduzir a especulação com o dólar. Na sua avaliação, as medidas são "prudenciais" e obedecem aos princípios de Basiléia. Ele recusou-se a comentar o efeito que as novas normas terão sobre a cotação do dólar. Sobre o comportamento do dólar ontem, limitou-se a dizer que duas das três circulares entram em vigor em julho. "Essa é uma ação que limita operações no mercado financeiro, dá mais segurança e estabilidade a esse mercado e impede operações de vulto que poderiam não ser cobertas", disse Mantega.