Título: Greve do BC atrapalha a divulgação de estatísticas
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Finanças, p. C3

A greve do Banco Central, que completou 40 dias ontem e já se tornou a mais longa na história da instituição, está atrapalhando a divulgação de estatísticas importantes, mas não impediu o cumprimento de tarefas essenciais, como decisões nas políticas monetária e cambial. Analistas do mercado sentem falta dos dados, antes divulgados regularmente, sobre as intervenções no mercado de câmbio. A divulgação da posição diária das reservas internacionais, por exemplo, foi interrompida em 2 de maio.

O BC reconhece que a greve atingiu em cheio a divulgação regular de estatísticas. Mas diz que o regime de contingência permitiu, por exemplo, que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada ocorresse sem incidentes. A instituição assegura também que a ata da reunião será divulgada normalmente na próxima quinta-feira e que, no fim do mês, circula o relatório de inflação. Na semana passada também foram editadas três normas importantes sobre o mercado de câmbio.

Embora não seja capaz de divulgar as estatísticas como antes, a diretoria colegiada do BC continua a ter números para tomar suas decisões. Eles só não são divulgados para o mercado porque, embora sejam aproximações muito confiáveis, não seguem exatamente a metodologia das séries históricas.

O processo de produção de dados estatísticos envolvem mais de um departamento. No caso das reservas, é essencial o trabalho do Departamento de Operações com Reservas Internacionais (Depin), que pondera as aplicações feitas em cada uma das moedas. O Depin é um departamentos em que os funcionários são bem organizados.

Hoje, os funcionários do BC retomam as negociações, em reunião com o secretário de recursos humanos do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça. A principal reivindicação é que os analistas, cargo que exige formação superior, tenham o salário equiparado ao dos auditores da Receita Federal. O BC paga R$ 7.082,40 aos analistas, e a Receita, R$ 10.155,32 aos auditores.

Há dois anos, em 2005, os funcionários do BC fizeram campanha salarial para conquistar a equiparação com a Receita. Obtiveram os aumentos, o que empatou os salários. Mas o governo, que resistiu muito em dar o aumento aos funcionários do BC, elevou novamente o salário da Receita no ano seguinte. Os funcionários do BC querem nova equiparação.

Neste ano, após intensas negociações, chegou-se à proposta de um reajuste de 30%, pago entre 2008 e 2009. O governo sustentava que não tinha recursos para oferecer nada nesse ano. Os funcionários do BC inclinavam-se a aceitar, mas decidiram renovar o movimento grevista depois que o governo concedeu reajuste para a Polícia Federal em 2007.

O presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do BC (Sinal), David Falcão, disse que a adesão de 95% dos funcionários à greve (o BC diz que é 55%) fortaleceu o movimento de tal forma que poderá leva-lo à radicalização. "Esperamos que o governo traga uma proposta apaziguadora à reunião", disse.