Título: Bancos já preparam "agências" no celular
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2007, Finanças, p. C14

Depois de gastarem bilhões em campanhas publicitárias para convencer seus clientes de que a internet é o meio mais fácil e rápido para fazer transações financeiras, os bancos se articulam para transformar o telefone celular em milhares de agências bancárias.

Em vez de injetar os tubos em infra-estrutura, construção de prédios e contratação de pessoal, os bancos tendem a investir pesado em integração tecnológica e em muita, mas muita propaganda para convencer o cliente de que agora o telefone pessoal também é uma extensão de sua conta bancária. O assunto está no centro das discussões do congresso de tecnologia da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), o Ciab, que começa amanhã, em São Paulo.

"Montar bancos de tijolos e argamassa não é uma solução barata para chegar até o usuário, principalmente em países de grandes dimensões, como o Brasil", diz diz Len Pienaar, diretor executivo de soluções móveis do First National Bank (FNB), da África do Sul. "O caminho é o celular."

O FNB dá o exemplo. Há dois anos a telefonia móvel virou prioridade para o banco sul-africano, que investiu em padronização de processos e sistemas de comunicação. Hoje o FNB soma aproximadamente 1 milhão de clientes que usam o celular para pagar contas e fazer transferências. É praticamente o mesmo volume de usuários que o Brasil tem atualmente, se concentradas as experiências feitas até agora pelo Banco do Brasil, Bradesco, HSBC e Itaú.

Mas convencer o usuário a acessar seu banco pelo celular não é algo tão simples assim, comenta Pienaar. Para mostrar a seus clientes que as transações móveis têm um alto grau de segurança, o FNB teve que assumir o risco das operações. Foi criado o "money back", serviço que garante ao cliente a devolução de seu dinheiro caso ocorra algum problema na transação.

Até o mês passado, diz o executivo, o FNB cobrava uma pequena taxa para as transações feitas pelo celular. A partir deste mês tudo foi liberado, gratuitamente. "Com isso vamos acelerar a adoção."

Nesta semana, Pienaar está no Brasil para detalhar, durante o Ciab, a experiência do FNB com os serviços móveis. O setor financeiro é todo ouvidos. Afinal, publico-alvo é o que não falta. Hoje a população "bancarizada" no Brasil é de aproximadamente 70 milhões de pessoas, enquanto o volume de celulares ativos chega a 102 milhões de unidades. O desafio é fazer com que essa massa de usuários de telefonia migre para os serviços bancários, sejam clientes de bancos ou não. Em vários países já há casos em que as teles assumiram algumas funções bancárias, diz Rafael Dan Schur, executivo de desenvolvimento de negócios da área de serviços financeiros da IBM Brasil. Um exemplo é a transferência de valores, onde o usuário usa o telefone para transmitir determinada quantia para a conta bancária de outra pessoa, e depois recebe o débito na fatura de seu celular.

Os exemplos inspiram o setor, mas o fato é que ainda há muito o que se caminhar. Mais que definir padrões tecnológicos e processos entre bancos, clientes e operadoras, é preciso atentar aos hábitos dos usuários. Um estudo recente do Comitê Gestor da Internet, feito com mais de 10 mil pessoas, aponta que 75% dos usuários de celular usam seus aparelhos apenas para fazer e receber ligações. Outros 46% chegam a enviar mensagens instantâneas (SMS) pelo equipamento, enquanto 10% também ouvem músicas ou assistem vídeos. Entre os entrevistados, 38% disseram que seus celulares têm acesso à internet, mas só 5% chegam a usá-los para navegar na web.

Para os bancos, porém, não há muita saída, avalia o especialista da IBM da área de microfinanças, Alberto Jimenez, que também irá palestrar no Ciab. "O celular é a única forma que os bancos têm de ganhar novos clientes."

De fato. No ano passado, os bancos viram a taxa de seus serviços on-line praticamente estagnar. Foram 3,27 bilhões de transações feitas pela rede, alta de apenas 3,5% sobre o resultado do ano anterior. O destaque ficou mesmo com os chamados correspondentes não bancários - casas lotéricas, farmácias, postos de correio etc. -, que cresceram 380%, totalizando 1,42 bilhão de transações.