Título: Fundos de pensão perdem força política
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2007, Política, p. A5

Os fundos de pensão ligados a empresas estatais ficaram órfãos politicamente com a saída de Luiz Gushiken do governo. Hoje, seu principal interlocutor no governo é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mas, nesse caso, o contato tem um caráter mais "técnico" do que político - Dilma quer que os fundos invistam em projetos do Programa de Aceleração do Crescimento.

No primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gushiken, então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo, indicou os presidentes dos dois maiores fundos patrocinados por estatais - Sérgio Rosa, da Previ (Banco do Brasil), e Wagner Pinheiro, da Petros (Petrobras). Guilherme Lacerda, presidente da Funcef (Caixa Econômica Federal), o terceiro maior fundo do país, foi indicado pelo ex-ministro José Dirceu, mas, assim como Rosa e Pinheiro, trabalhou sob a orientação de Gushiken.

Especialista em assuntos previdenciários, Gushiken foi um aliado crucial para os dirigentes dos fundos no núcleo do poder em Brasília. Foi graças ao apoio político do ex-ministro que eles conseguiram derrotar o banqueiro Daniel Dantas, na disputa pelo comando da Brasil Telecom (BrT), um litígio iniciado há sete anos, antes, portanto, de Lula assumir o poder.

Gushiken obteve o apoio do presidente à causa dos fundos de pensão, contrariando os interesses de outros integrantes e aliados do governo em relação à disputa com Dantas - no auge da controvérsia, em 2005, o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e pivô do escândalo do "mensalão", chegou a procurar dirigentes dos fundos para dizer que a briga com Dantas não interessava nem ao governo nem ao PT.

Gushiken perdeu o cargo de ministro no rastro da crise do mensalão e, no fim do ano passado, deixou o governo, desgastado. Hoje, embora o presidente Lula conheça pessoalmente os principais dirigentes dos fundos de pensão, não há uma relação direta. Dos três maiores fundos, o único que tem um dirigente com maior acesso ao Palácio do Planalto é a Previ. Seu presidente, Sérgio Rosa, foi convidado para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

A ausência de um interlocutor político preocupa as fundações. Quando o professor Roberto Mangabeira Unger, aliado de Dantas e inimigo dos fundos, foi convidado para assumir, com status de ministro, a Secretaria de Ações de Longo Prazo, um dirigente de um dos fundos procurou a ministra Dilma Rousseff para expressar sua preocupação. Isso não foi suficiente, no entanto, para impedir o convite ao professor e, agora, a sua posse.

A preocupação, no entanto, não diz respeito somente à nomeação de Mangabeira, mas ao futuro. Está amadurecendo, no mercado e em Brasília, a idéia de reestruturação da telefonia no Brasil, privatizada há nove anos. Uma das possibilidades passa justamente pela fusão da BrT com a Oi (ex-Telemar). Uma vez que têm participação acionária nas duas empresas e a união valorizaria seus ativos, os fundos têm interesse no negócio.

Polêmica, a fusão passará necessariamente pelo crivo político do Palácio do Planalto, uma vez que, para acontecer, será necessária a edição de um decreto presidencial alterando o Plano Geral de Outorgas - pela regra atual, as concessionárias de telefonia fixa não podem ter, em regiões diferentes, os mesmos sócios no bloco de controle das empresas.

O debate da fusão acontece em meio a outro assunto delicado, do ponto de vista político. O prazo para o exercício do acordo de "put", assinado entre os fundos de pensão e o Citibank e que foi um dos principais motivos da disputa com Daniel Dantas, começa a contar em setembro. Por ele, se os fundos e o Citi não encontrarem um comprador para suas ações na BrT, as fundações serão obrigadas a comprar a parte dos americanos, com ágio de quase 300%.