Título: Marta evita holofotes e avalia opções eleitorais
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2007, Política, p. A7

O fato de ter desembarcado na Esplanada em um ministério com visibilidade menor do que a desejada não freou o ímpeto de Marta Suplicy para articular vôos eleitorais mais altos. Num primeiro momento, Marta queria comandar o Ministério da Educação ou o das Cidades, Pastas com cacife político maior, mas acabou tendo que se contentar com o Turismo. Enquanto viaja pelo Brasil sonhando em criar um grande plano para o setor, segue alimentando junto aos aliados três caminhos eleitorais distintos: a Prefeitura de São Paulo em 2008; o governo de São Paulo em 2010 ou, num vôo mais arriscado, tornar-se candidata do PT à sucessão de Lula.

Dependendo da decisão, a definição terá que sair ainda este ano. O prazo máximo é abril do ano que vem, caso tenha que se desincompatibilizar. Mas, Marta precisa de tempo para construir as alianças necessárias. Os petistas próximos a ela já têm toda a estratégia e as composições para que cada um desses cenários se viabilize. Apesar de reconhecer que Marta tem uma força política inquestionável, sabem das fraquezas e das lacunas a serem preenchidas em todos os quadros.

Por enquanto, Marta mantém o cenário em aberto. A aposta mais forte é que ela deve ficar até o fim do segundo mandato de Lula, abrindo mão de disputar a prefeitura. Menos por um suposto pedido presidencial neste sentido - "o presidente e ela saberão o que é melhor no momento certo, tanto para o governo quanto para o PT", assegurou um martista - e mais pelo desejo de avançar em novos caminhos políticos. Na última visita que fez ao Planalto, para apresentar seus programas para o setor de turismo, reservou uma parte da audiência para discutir política com o presidente. Guardou o segredo a sete chaves. "Foi uma conversa particular, entre dois correligionários", disse, à época.

Marta também vem demonstrando gosto pela Pasta. "Para meu desespero, ela já disse várias vezes que está adorando ser ministra", brincou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP). Enquanto articula a elaboração de um Plano de Turismo social, o ministério firma parcerias com a Caixa Econômica Federal visando a abertura de crédito consignado para aposentados viajarem. Marta aproveita a capilaridade de sua Pasta para conversar com prefeitos e governadores, possíveis aliados em um futuro não tão distante.

Opera tudo isso com o cuidado de permanecer afastada dos holofotes. "Nesse momento, quanto menos marola ela fizer, melhor. É bom para o PT ter uma ministra forte na Esplanada. E é bom pro Lula ter uma ministra discreta", acrescentou um parlamentar paulista. Mas o grupo não esconde a empolgação com os 35% de intenção de voto auferidos pelo Ibope na semana passada, colocando a ex-prefeita empatada com o tucano Geraldo Alckmin na disputa pela prefeitura em 2008. "É um recall muito bom", reconhece um petista próximo de Marta.

O staff municipal de Marta é composto pela família Tatto, por Cândido Vaccarezza, Carlos Zarattini, Devanir Ribeiro e José Mentor. O grupo calcula que tenha o controle de praticamente 70% do diretório municipal, o que deixa Marta soberana se quiser ser candidata. E com poderes suficientes para "ungir" um nome forte para a disputa. Alguns nomes alternativos surgem nesse segundo cenário, ainda fruto de especulação: o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, o deputado José Eduardo Cardozo, o deputado estadual Rui Falcão.

Chinaglia foi secretário de Marta na Prefeitura de São Paulo e vem mantendo proximidade com a ministra do Turismo. Não descarta a possibilidade de concorrer em 2008, mas apenas se Marta abrir mão da disputa. "Eu não vou disputar a convenção com ela, em hipótese nenhuma", garantiu o presidente da Câmara. Mas há quem não veja o céu tão azul para Marta. "Ela poderá concorrer com Alckmin (Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e candidato derrotado do PSDB à Presidência em 2006), um nome forte no Estado e que derrotou Lula e o PT na capital. Não é fácil", alertou um parlamentar aliado.

Migrar para a disputa estadual também não se apresenta como uma opção tão segura assim. Hegemônica na capital, Marta terá que se aproximar de outros petistas com força no interior, como o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Cunha chegou a sonhar com o Palácio dos Bandeirantes em 2006, mas foi abatido em pleno vôo pela crise do mensalão. "Ele não tem condições de concorrer a cargos majoritários, mas tem força no interior e pode agregar apoios".

Outra estratégia é negociar com os partidos da coalizão federal. Nem passa pela cabeça do grupo repetir a campanha da reeleição em 2004, quando o PT resolveu fazer uma chapa puro-sangue, com Marta e Rui Falcão, fechando as portas para o PMDB. Acabou sendo derrota pelo tucano José Serra. Para o Palácio dos Bandeirantes, o fantasma de Alckmin não está descartado. Como Serra é presidenciável, Alckmin poderá articular um retorno ao Palácio dos Bandeirantes, amparado pela boa avaliação que tem junto ao eleitorado paulista.

Resta ainda o vôo mais alto e o mais difícil de todos: suceder Lula em 2010. O PT não tem um herdeiro natural ao Planalto daqui a quatro anos. Se as coisas se mantiverem como estão - e os petistas sonham com isso - Lula será um grande cabo eleitoral. "Um bom ministro ganha, nesse cenário, dividendos políticos importantes", assegurou um parlamentar martista.

Esses planos, contudo, são mais ousados. Dependem das eleições internas do PT, o chamado PED, quando as forças internas da legenda vão se reorganizar. Dependem também da composição dos aliados - o PSB do deputado Ciro Gomes já inicia movimentos para viabilizar o ex-ministro da Integração Nacional como candidato da coalizão. Os martistas planejam uma parceria com o PMDB. "Se fizermos uma composição com o PMDB, fica difícil aparecer outra alternativa na base governista", completou Tatto.

Falta ainda combinar com Lula. O presidente vai querer subir em palanques, mas tem tradição de não se envolver em bolas dividas. Se tiver dois candidatos da base, ele pode não apoiar ninguém explicitamente. O que talvez nem seja prejudicial em um primeiro momento. Mas mortal numa etapa posterior. "O PT não precisa do apoio de ninguém para levar um candidato próprio ao segundo turno. Mas precisará, sim, do apoio de Lula para vencer a eleição presidencial de 2010", vaticinou um coordenador da campanha de Marta.