Título: Tentamos fazer o melhor
Autor: Oliveira, Noelle
Fonte: Correio Braziliense, 30/12/2010, Cidades, p. 32

Governador do DF diz que deixa R$ 157 milhões em caixa para Agnelo e admite que sai constrangido com a sujeira espalhada pela capital

Dizendo-se constrangido com a cidade tomada pelo mato e pelo lixo, o governador Rogério Rosso (PMDB) anunciou ontem que entregará as contas do DF em dia para seu sucessor, Agnelo Queiroz (PT). E mais: com R$ 157 milhões em caixa, considerando a arrecadação tributária. Em entrevista ao Correio, Rosso fez um balanço de sua gestão, avaliou ter recebido uma herança mais problemática do que a que será entregue ao próximo governo e se disse pouco preocupado com o fato de ter sido suspenso por seu partido, o PMDB. Ele considerou que sua gestão conseguiu superar o medo que se instalou de uma possível intervenção federal no DF, e afirmou que pretende continuar na vida política após a experiência de oito meses como governador. A partir do próximo dia1º, no entanto, Rosso declarou que terá de procurar um emprego. ¿Nunca fui empresário, sou assalariado¿, afirmou. Com relação às críticas ao preço da festa de fim de ano na capital, que tem um custo total de R$ 6,8 milhões, o governador destacou que as contas serão avaliadas e que a ideia da festa foi atender a um pedido dos brasilienses.

Entrevista - Rogério Rosso

Como o senhor avalia a sua curta gestão à frente do GDF? Acredita que conseguiu superar os efeitos da crise que se instalou no DF? Eu tinha uma ideia da situação do governo quando assumi, mas fui vendo que era muito mais difícil. Procuramos deixar uma situação mais favorável ao governo que está entrando. A cidade conseguiu superar esse capítulo e episódios como a ameaça de intervenção. Para tanto, nós não tentamos inventar a roda, nem fizemos um governo para holofote. A gente fez um governo para procurar ajudar o Distrito Federal no momento difícil que passou. É muito difícil agradar a todos, mas tentamos fazer o melhor.

O senhor acredita que o governador Agnelo Queiroz receberá uma herança política igual ou pior a que o senhor recebeu quando assumiu o governo-tampão? Vi declarações recentes em que o Agnelo considera a herança que vai receber como ¿maldita¿. Se a dele é ¿maldita¿ eu não sei nem como qualificar a minha. Mas não gosto de falar em herança, já que, do ponto de vista jurídico, se refere a alguém que morreu e Brasília está viva. O que temos são deficiências de políticas públicas e a falta de investimentos em áreas essenciais. O que buscamos foi fazer um governo que enfrentasse esses problemas e assim o fizemos.

Como o senhor se sente entregando uma cidade ao próximo governo tomada pelo mato e pelo lixo? Quando eu vejo a grama alta é claro que a gente fica constrangido. Moro nessa cidade há 41 anos. Por mais que se corte grama em dezembro, janeiro e fevereiro, a sociedade nos cobra que tudo esteja pronto, e está correta nessa posição. Não é culpa da população uma greve da Novacap, uma paralisação dos serviços, mesmo contra a nossa vontade. Na questão do lixo, o governo cumpriu uma decisão judicial e esse processo de transição das empresas responsáveis pela coleta está sendo traumático. Tudo que foi possível fazer está sendo feito. Eu também queria que a cidade estivesse mais bonita. Queria num passe de mágica acordar, amanhã, com tudo limpo. Mas, enfim, a cada dia estamos recuperando o tempo perdido.

Em que situação os caixas do DF serão entregues ao novo governo? A gente buscou o equilíbrio das contas a cada dia de governo, a cada remanejamento de orçamento, a cada esforço de arrecadação. Tudo visando o fechamento do ano com uma situação financeira orçamentária positiva. Essa foi uma das prioridades. Fechamos o ano com um superavit de R$ 1,1 bilhão no GDF para ser entregue ao próximo governador. Se considerarmos apenas as arrecadações tributárias, entregaremos em caixa quase R$ 157 milhões. Superamos todas as perspectivas de possíveis deficits com um contingenciamento de gastos que foi determinante para o nosso sucesso. Também cumprimos a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Como o senhor recebe as críticas ao alto custo da festa de fim de ano no DF , que custará aos cofres públicos quase R$ 7 milhões? A gente fortaleceu o sistema de controle interno da Corregedoria justamente para que haja sempre uma avaliação em tempo real das contas do governo. Se não fazemos a festa nos criticam, se fazemos, também criticam. A festa era um pedido recorrente da população. Aceitamos as críticas e mandamos investigar qualquer contratação. Foi uma decisão de governo colocar orçamento para que a cidade não passasse em branco os festejos de fim de ano e a comemoração dos 50 anos da cidade. Tudo vai ser obviamente averiguado e corrigido o que tiver que ser corrigido, se for necessário.

Recentemente, o senhor foi suspenso de seu partido, o PMDB, e por isso não poderá ocupar, como suplente, a vaga de Tadeu Filippelli na Câmara dos Deputados no mês de janeiro. Isso o preocupa? Não sei se estando suspenso eu ainda permaneço no partido ou não. Não entendo bem. De qualquer forma, o PMDB foi o único partido em que estive até hoje e nunca pensei em sair. Divergi do meu partido nas convenções das eleições, mas percebo que não se pode divergir. Isso na minha avaliação não é democracia. Mas vou respeitar a decisão. A Câmara dos Deputados, em janeiro, funciona de uma forma especial, está em recesso, então não estou muito preocupado com isso. Não estou nada preocupado em assumir ou não assumir. Quero ficar com a minha família, com os meus pais, já que estou ausente esses meses. Meus advogados não estão tentando reverter essa decisão do PMDB.

A partir de 1º de janeiro, quais os planos para sua vida política? Vou precisar arrumar um emprego. Nunca tive empresa, nem fui empresário, sou assalariado desde adolescente. Mas o futuro político, eu acho que, depois que você passa por uma experiência dessa que nós passamos, é muito difícil você se afastar da vida pública. Até porque, você começa a ter uma visão diferente e mais aprofundada dos temas da cidade. Da minha parte, vou estar bastante atento nesse sentido.